Quem acompanhou Brega e Chique, no canal Viva, desde o início, se surpreendeu quando, de um capítulo para outro, apareceu uma palavra escrita dentro dos óculos de sol de uma das modelos da abertura: Rurita. Tratava-se de uma marca de confecção de roupas, conhecida entre as décadas de 1970 e 1980. Um caso de merchandising em abertura de novelas.

Geralmente eles são explícitos (bem, precisam ser), mas também invasivos, ou poluentes, quando destoam da proposta estética da abertura – caso da Rurita em Brega e Chique. Às vezes, aparecem discretos; outras, integrados ao design da abertura. O fato é que ter sua marca estampada diariamente na abertura de uma novela por mais de 150 capítulos deve custar uma nota preta!

Merchans em aberturas de novelas existem desde a década de 1970, mas estão em desuso desde os anos 2000.

Abaixo, cito outros 23 casos que você percebeu, ou não, ou nem se lembrava mais:

O Grito (1975-1976) foi a primeira novela da Globo a exibir merchandising de uma marca em sua abertura. Intencional ou não, entre as imagens captadas da paisagem urbana de São Paulo, a câmera focalizou uma agência do Banco Bamerindus e um outdoor dos jeans Levi’s.

A música-tema da abertura da novela Sem Lenço Sem Documento (1977) era “Alegria Alegria”, de Caetano Veloso (também usada na abertura da minissérie Anos Rebeldes, em 1992). Um merchandising da Coca-Cola aparecia entre as imagens da abertura no trecho da música que diz “Eu tomo uma Coca-Cola, ela pensa em casamento”.

Entre as imagens alegres da abertura da novela Feijão Maravilha (1979), havia dois merchans: da cerveja Antárctica e dos fósforos Fiat Lux – que, remetem à feijoada, logo condizentes com a proposta da abertura.

O merchandising era explícito na novela Cara a Cara, da TV Bandeirantes (1979), com propagandas dos jeans US Top e da bicicleta Caloi. Nas reprises da novela, esses anúncios foram suprimidos da abertura.

Em 1983, a TV Bandeirantes voltou a usar duplo merchan em abertura. Na novela Maçã do Amor, apareciam os produtos de beleza Max Factor e os jeans Pool.

A abertura de Transas e Caretas (1984) fazia merchandising do videogame Atari 2600, recém-lançado no Brasil na época e que acabou se tornando um ícone da década de 1980 (um dos rapazes que apareciam correndo no videogame era Raul Gazola, antes de estrear como ator). Mal dava para perceber, mas, ao final, o televisor no qual a moça jogava videogame revelava a marca Sony.

Era quase imperceptível, mas a abertura da novela Roque Santeiro (1985-1986) exibia uma ação de merchandising da moto Agrale, que aparecia rapidamente quando um motoqueiro pilotava sobre cocos.

A dinâmica abertura de Ti-ti-ti (1985-1986) foi uma das mais inventivas já criadas para a televisão. Tesouras, lapiseiras, agulhas e fitas métricas ganhavam vida própria e se digladiavam. Entre as imagens, surgia a marca de linhas para costura Corrente. A abertura foi refeita para o remake da novela, em 2010, mas sem o merchan da Corrente.

A bela abertura do remake de Selva de Pedra (1986) exibia fotos do elenco refletidas em edifícios espelhados. Na passagem das imagens de José Mayer para Nicette Bruno, surgia refletido um relógio da marca Champion, muito popular na época da novela.

A marca de jeans Goodway aparecia rapidamente entre as imagens de paisagens urbanas cariocas, em ritmo acelerado, exibidas na abertura de O Outro (1987).

A abertura da novela Bambolê (Globo, 1987-1988) fazia merchandising do achocolatado Toddy, que aparecia rapidamente estampado na página de uma revista.

Na novela Fera Radical, a motocicleta da protagonista Cláudia – vivida na trama por Malu Mader – era também um dos elementos da abertura. De novo um merchan da moto Agrale, que já patrocinara a abertura de Roque Santeiro.

Em uma ação de merchandising, um trator do fabricante Massey Ferguson era visto discretamente na abertura da novela O Salvador da Pátria (1989).

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A grife de roupas Dumond aparecia na abertura de Top Model (1989-1990), entre as imagens de modelos desfilando no espaço em que diversos planos se cruzavam.

A principal cota de patrocínio da novela A História de Ana Raio e Zé Trovão, da TV Manchete (1990-1991) vinha dos Postos Ipiranga, que já apareciam nas imagens da abertura. Nada mais integrado à temática da novela, que abordava caravanas de shows de peões de boiadeiro. Por ocasião da reprise da novela pelo SBT, a propaganda foi retirada.

O merchan do jeans Nexus aparecia entre as moças de camiseta molhada na abertura da novela 74.5 Uma Onda no Ar, da TV Manchete (1994) – entre elas a futura atriz Samara Felippo.

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A marca de lingerie Lovable surgia entre as imagens da abertura da novela A Idade da Loba, exibida pela Band em 1995.

Na abertura da novela Anjo Mau – o remake de 1997-1998, com Glória Pires -, uma noiva acinzentada ganhava cor conforme se vestia e se maquiava com cosméticos Avon. A modelo em questão era a atriz Graziela di Laurentis, que já fora dublê de Glória Pires nas cenas em que as gêmeas Ruth e Raquel contracenavam na novela Mulheres de Areia, em 1993.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor