Mais um clássico da TV brasileira foi disponibilizado no Globoplay este ano: a novela Mulheres de Areia, de Ivani Ribeiro, com Glória Pires como as gêmeas Ruth e Raquel – produção originalmente exibida em 1993. Trata-se do remake da trama da TV Tupi, de 1973, com Eva Wilma nos papeis das gêmeas. Um dos maiores sucessos da década de 1990, destaco 10 curiosidades sobre a novela.

1 – Baseada em filme com Bette Davis

Para escrever Mulheres de Areia, Ivani Ribeiro baseou-se em uma antiga radionovela de sua autoria, As Noivas Morrem no Mar, de 1965, com a atriz Maria Fernanda emprestando a voz (afinal era rádio).

A radionovela, por sua vez, foi inspirada no filme Uma Vida Roubada (1946) – com Bette Davis (foto acima) nos papeis das gêmeas -, que trazia praticamente a mesma história até o ponto em que acontece o acidente no mar e a irmã sobrevivente ocupa a vida da falecida.

Para render uma novela de televisão, Ivani deu continuidade à trama com um gancho irresistível: uma das gêmeas não morreu e prepara uma vingança contra a irmã que tomou seu lugar – ou, que lhe roubou a vida, como sugere o título do filme original.

2 – Remake foi engavetado e adiado

A ideia de regravar Mulheres de Areia surgiu em 1990, porém o projeto foi arquivado e retomado pouco tempo depois. Cláudia Abreu foi cogitada para viver as gêmeas, mas chegou-se a um consenso de que deveria ser Glória Pires.

O nascimento de uma filha de Glória (Antônia) ainda adiou a produção em quase um ano: a novela deveria substituir Felicidade, em junho de 1992. Em seu lugar foi produzida Despedida de Solteiro para que só depois Mulheres de Areia pudesse estrear.

3 – Uma atriz, quatro papeis

Glória Pires, marcada pelos papeis das gêmeas, lembra da novela como “uma das mais trabalhosas”. Conseguiu viver praticamente quatro personagens e estabelecer diferenças que dispensavam avisos ao público. Além de ser Ruth e Raquel, foi “Raquel imitando Ruth” e “Ruth imitando Raquel”.

Por seu trabalho, Glória foi premiada com o Troféu Imprensa e eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a melhor atriz de televisão do ano de 1993.

4 – O Espantalho

Às tramas da nova Mulheres de Areia foi incorporada a espinha dorsal de outra novela da autora: O Espantalho (de 1977). Ou seja, o prefeito de uma cidadezinha litorânea que proíbe banhos de mar nas praias poluídas. Todavia foi o confronto das gêmeas Ruth e Raquel que conduziu a versão da Globo à mesma repercussão que a história atingiu na TV Tupi, em 1973.

5 – Fenômeno de audiência

A aceitação de Mulheres de Areia pelo público foi tanta que a novela registrou uma média final de audiência de 50 pontos no Ibope da Grande São Paulo, um fenômeno para a época. Dava mais audiência que a novela das sete contemporânea, O Mapa da Mina, estrelada por Carla Marins (foto). Cogitou-se inclusive a transferência de horário das 18 para as 19 horas, já que O Mapa da Mina passou por vários problemas de produção. A ideia foi abandonada.

6 – Sucesso na Rússia

Diversos países compraram a novela. Mulheres de Areia fez tanto sucesso na Rússia que o governo do país exibiu o último capítulo em um dia de eleição, evitando que os eleitores viajassem no feriado e, assim, aumentando a frequência das zonas eleitorais.

No país, a novela foi batizada de Sekret Tropikanki, que significa “o segredo de uma mulher tropical” em russo. Também era conhecida como Tropikanka 2, porque a atração anterior foi outra novela global, Tropicaliente, batizada na Rússia de Tropikanka. Em comum, as duas novelas têm apenas a ambientação praiana, exótica aos olhos do povo russo.

7 – Três Tonhos da Lua

Três atores escalados para o elenco fizeram testes para interpretar o Tonho da Lua: Eduardo Moscovis, Irving São Paulo e Marcos Frota, que acabou ficando com o papel. Tonho foi o grande destaque da novela, marcou a carreira de Frota e o ator é lembrado pelo personagem até hoje (“Aaaa Ruthinha é boa, a Raquel é má!”).

Eduardo Moscovis e Irving São Paulo ficaram com outros personagens: Tito e Zé Luís, respectivamente.

8 – Evandro Mesquita limado pela autora

O ator interpretava Joel, o namorado de Tônia (Andréa Beltrão), um sujeito de caráter duvidoso, quase um vilão, um personagem importante dentro da trama de O Espantalho. Porém, Ivani Ribeiro não gostou do tom debochado, quase cômico, que Evandro tentou imprimir em Joel. O ator não se adequou ao personagem e foi afastado. Assim, a autora criou um outro interesse amoroso para Tônia: Vitor (Oscar Magrini).

9 – As esculturas de areia

O ator Serafim Gonzalez – que também participou na primeira versão, na qual viveu o personagem Alemão – foi o responsável pelas esculturas de areia nas duas novelas. E ganhou um outro personagem dentro da nova trama: o pescador Garnizé.

Serafim e seu filho, Daniel Gonzalez, que o auxiliava, chegavam a fazer quatro esculturas por dia, para atender a demanda das cenas, e estavam a postos, em média, três horas antes da chegada da equipe. Alguns detalhes das esculturas eram finalizados por Marcos Frota (o Tonho da Lua), em cena.

[anuncio_5]

10 – Reprises e abertura censurada

A novela foi reapresentada no Vale a Pena Ver de Novo em duas ocasiões: entre 1996 e 1997, e entre 2011 e 2012. Em 2016, foi exibida no canal Viva.

Para a segunda reprise (2011-2012), a Globo providenciou uma alteração na abertura, que foi ajustada com tarjas opacas nas extremidades e um brilho excessivo de modo a minimizar ao máximo a nudez de Mônica Carvalho.

Oficialmente, a emissora avaliou que a abertura de 1993 “não era compatível com os padrões morais atuais do país” (2011). Entretanto, especula-se que a mudança tenha ocorrido pelo temor de que a novela sofresse uma reclassificação de horário e não pudesse ser exibida no início da tarde.

AQUI tem tudo sobre Mulheres de Areia: trama, elenco completo, personagens, trilha sonora e mais curiosidades.

Compartilhar.
Avatar photo

Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor