Ao longo de mais de 70 anos, a televisão brasileira levou ao público momentos memoráveis e de alto nível, com produções e programas jornalísticos premiados mundo afora. Não é à toa que a nossa TV é uma das melhores do mundo.

No entanto, também somos famosos pela baixaria desenfreada e sensacionalista, seja de produtores, seja de apresentadores.

Listamos abaixo 10 momentos nos quais as emissoras perderam o bom senso. Confira:

Bebê morre ao vivo no SBT

Wagner Montes no programa O Povo na TV

No início do SBT, a grade de programação era totalmente popularesca. E um grande sucesso foi o programa O Povo na TV. Dirigido por Wilton Franco e apresentado por Wagner Montes, Christina Rocha, Sergio Mallandro, entre outros. Era um verdadeiro tribunal popular, que recebia todo tipo de casos e pedidos de ajuda.

Em 1982, a atração, que era exibida ao vivo, recebeu Maria Erinalda da Silva, mãe de Danubia, que sofria de câncer nos olhos. Desesperada, ela afirmava que os hospitais recusavam tratar da doença de sua filha.

Maria entrou ao vivo às 13 horas com a criança no colo, que acabou falecendo ao vivo, com sangramento nos olhos, uma característica da doença. Toda a angústia foi exibida para todo o País, sem qualquer tipo de corte.

O Povo na TV foi duramente criticado por apresentar esse fato e pela falta de sensibilidade ao exibir o padecimento de uma criança.

A atração ficou no ar até 1983, mas saiu definitivamente da grade do SBT depois de um escândalo envolvendo o curandeiro Roberto Lengruber, participante fixo do programa, que foi preso por charlatanismo.

Esposa “emprestada” para o amigo

Flávio Cavalcanti

Nos anos 1970, o País vivia tempos de chumbo. Sob ditadura militar, a censura rígida e cruel vetava tudo aquilo que não agradava ao governo. Mesmo com tudo isso, muitos programas desafiaram as canetas dos censores de plantão.

Flávio Cavalcanti foi um grande comunicador, trazendo para o seu programa assuntos polêmicos que mexiam com os telespectadores. Um desses casos foi do lavrador José Gonçalves, que “emprestou” sua esposa, Rita, para o pedreiro João, que também era casado. O problema era que José não conseguia a “devolução” da esposa, já que ela pareceu ter gostado de João e pretendia ficar cuidando dos dois.

“Mas por que o senhor emprestou sua esposa?”, perguntou Flávio ao lavrador. Ele sofria de epilepsia e tomava um número grande de calmantes que, por sua vez, o deixavam impotente. Para resolver seu problema, ele “emprestou” sua esposa ao pedreiro.

O governo não deixou barato e tirou o programa do ar por 60 dias. Flávio, que era defensor dos militares e da Censura, sofreu a mesma falta de liberdade que muitos sentiram, seja dentro ou fora da TV.

Autópsia em rede nacional

PC Farias e Suzana Marcolino

O assassinato de Paulo César Farias, ex-tesoureiro da campanha do presidente Fernando Collor de Mello, e de sua namorada, Suzana Marcolino, parou o Brasil. As investigações foram seguidas de perto pela imprensa.

Goulart de Andrade, que, na época, estava na Rede Manchete, recebeu uma fita com as imagens da autópsia de PC Farias. No dia 11 de agosto de 1996, foram exibidas, sem censura alguma, cenas de uma autópsia para todo o País, e o canal aproveitou para estampar na tela sua marca, mostrando que o material era exclusivo.

O jornalista pensou em comercializar uma fita VHS com as imagens da necropsia, mas acabou desistindo. Assim, o fato caiu no esquecimento.

Suicídio exibido em horário nobre

Aqui Agora

O Aqui Agora revolucionou o modo de se fazer jornalismo na televisão. O jornal mostrava a realidade nua e crua, sem cortes, de maneira direta e informal, trazendo a câmera nervosa como ponto principal das reportagens policiais.

Mas alguns fatos marcaram negativamente o telejornal. Um deles aconteceu na tarde de 5 de julho de 1993, quando a jovem recepcionista Daniele Lopes ameaçava se jogar do alto de um prédio no centro de São Paulo.

Ao chegar ao local, a equipe do SBT encontrou a garota na sacada, pronta para pular. O repórter afirma que não deu tempo para reagir, já que, em pouco tempo, a garota pulou. A direção do SBT estava relutante em exibir a matéria, mas o diretor de jornalismo, Marcos Wilson, autorizou a exibição, dizendo que era apenas um “flagrante da cidade”.

A imprensa em geral criticou a exibição do suicídio, acusando a emissora de utilizar as imagens simplesmente por puro sensacionalismo, anunciando o fato durante todo o programa e exibindo a reportagem apenas no fim do jornal.

Latininho e Sushi Erótico

Em 1996, o Domingão do Faustão começava a sentir o sucesso do Domingo Legal, comandado pelo Gugu. Para retrair a audiência do programa do SBT, Fausto Silva apostou no popular e trouxe ao palco Rafael Pereira dos Santos, 15 anos e 87 cm de altura, portador da síndrome de Seckel, distúrbio que retarda o crescimento.

Diga-se de passagem, que esse foi um dos momentos mais constrangedores da história da televisão. Rafael entrou no palco vestido como o cantor Latino, realizou uma performance imitando o cantor e serviu de piada para o grupo de humor Café com Bobagem. Cada tentativa de fala e movimento do Rafael era motivo de risadas para o auditório.

O episódio foi amplamente criticado e estampado em jornais e revistas, levantando um debate sobre o bom senso na televisão.

Um ano depois, Faustão se envolveu em outra polêmica: exibiu ao vivo o famigerado sushi erótico, com homens comendo a iguaria que ficava no corpo de uma mulher nua. Foi o basta que o apresentador deu para atrações de gosto duvidoso. Até Roberto Marinho ficou chocado com a iniciativa.

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O “lobisomem” mexicano

Nos anos 1990, Gugu Liberato era a grande sensação dos domingos, comandando um programa movimentado, com brincadeiras dentro e fora do palco, mostrando ao vivo tudo o que ocorria no Brasil. Provas eróticas, como Banheira do Gugu, Strip Tease e Camiseta Molhada, faziam parte do cardápio do Domingo Legal.

Mas Gugu sempre estava de olho naquilo que era “novidade” e que poderia agradar ao público do dominical. Foi então que trouxe ao palco rapazes mexicanos que tinham seus rostos totalmente cobertos por pelos: os “lobisomens mexicanos”.

Esse caso não tinha nada de lobisomem; trata-se de uma doença genética chamada hipertricose. Aos rapazes, foram direcionadas perguntas, como estas: como era possível tomar banho, se regularmente eles penteavam o rosto, se a família tinha a ver com a lenda do lobisomem, entre outras questões esdrúxulas. A imprensa comentou que o apresentador fazia de seu programa um circo dos horrores.

Depois disso, Gugu explorou muitos outros fatos, como o caso do Chupa Cabra, a sensitiva Socorro Leite no Carandiru e o famigerado caso do falso PCC, que manchou a carreira do animador, falecido em novembro de 2019.

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“Tiroteio” no palco e no auditório

Em 1999, o grupo Axé Blond se apresentava no programa Festa do Mallandro, quando, de repente, começa uma briga no auditório entre dois homens. Um deles saca uma arma e começa a dar tiros para o alto, criando confusão tanto no palco quanto no auditório. O apresentador gritava, pedindo para entrar o comercial, enquanto os dois sujeitos fugiam para os bastidores.

Depois de imobilizar o suposto ex-colaborador, Mallandro explicou que tudo não passou de uma pegadinha e que jamais um homem armado entraria na TV Gazeta.

Uma pessoa anônima ligou para o 78º Distrito de São Paulo relatando todo o caso. Assim, os investigadores seguiram para a emissora e encontraram a arma, calibre 38, descarregada. A produção alegou que as balas eram de festim, sem risco algum para o público e os convidados.

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Criança torturada

Na década de 1990 e em meados de 2000, o Programa do Ratinho não tinha limites para apresentar todos os tipos de casos, sem censura nem bom senso.

No dia 23 de outubro de 2000, Ratinho falava sobre Marcelo Borelli que, na época, era o principal suspeito de liderar um sequestro de um avião da Vasp. Nessa data, o apresentador decidiu mostrar uma fita em que Marcelo tortura uma criança de cinco anos com requintes de crueldade.

Sem nenhum tipo de censura, o vídeo foi veiculado sem cortes. Não é necessário falar o que esse conteúdo apresentava, mas essas imagens são consideradas as mais fortes já exibidas em um programa de televisão. A atração alcançou 21 pontos de audiência durante a exibição.

A Justiça proibiu o SBT de exibir essa fita novamente, mas o assunto rendeu muitos comentários. Ratinho afirmou que era perseguido por mostrar a verdade na TV.

Homem armado invade palco

Em 2004, Márcia Goldschmidt apresentava o programa Jogo da Vida nas tardes de domingo na Band. Em outubro daquele ano, enquanto ela entrevistava o músico Waguinho, um homem armado invadiu o palco.

Moacir Camargo Borges, vendedor de carros na época, apontava uma arma em direção ao público e às câmeras, pedindo para que seu problema fosse solucionado. Ele alegava que sua ex-esposa não o deixava visitar os filhos e que aquela seria sua última tentativa.

O programa, que era exibido ao vivo, foi cortado e Moacir foi detido por seguranças e policiais, levado para a delegacia, preso em flagrante e finalmente condenado a dois anos de prisão em regime aberto.

Muitos falaram que o caso foi armado, mas Márcia negou em uma entrevista para a Folha de S. Paulo.

“As pessoas insistem em falar bobagens. Onde já se viu uma situação tão constrangedora, tão violenta, ser objeto de uma brincadeira num programa? Não tem sentido. Foi surreal”, declarou.

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Modelo mostrou demais

https://twitter.com/wiuzz/status/835319517505007616

No famigerado programa Bastidores do Carnaval, em 2017, a RedeTV! fez história negativamente.

A atração, comandada por Nelson Rubens e Flávia Noronha, mostrava a pintura no corpo da modelo Ju Isen, que, anteriormente, chegou a ser expulsa durante desfile da Unidos do Peruche por tirar a roupa no meio do Sambódromo.

Pintada com as cores da bandeira brasileira, ela rebolava para as câmeras e acabou mostrando demais. Uma parte de seu ânus apareceu ao vivo, chocando os apresentadores e o público que acompanhava a atração.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor