Em outro post aqui no TV História, relacionei as 10 melhores novelas da década, de 2011 a 2020. Agora, vamos às 10 piores.

Uso os mesmos critérios, subjetivos, baseados em minha experiência como telespectador e como crítico de televisão. Porém, deixei de fora: as temporadas de Malhação (que nesta década passaram a ser consideradas “novelas”); as produções infantis do SBT e as produções bíblicas de época da Record (já que não sou público delas).

Ressalto que audiência não tem absolutamente nada a ver com minhas escolhas; estão por ordem cronológica.

Confira:

Amor e Revolução (2011), de Tiago Santiago

A abordagem à Ditadura do Regime Militar não foi o suficiente para segurar o telespectador ante direção de atores e texto deficientes. O autor foi criticado pelo excesso de didatismo de seu roteiro. Nem mesmo o beijo lésbico entre as personagens de Luciana Vendramini e Giselle Tigre chamou a atenção do público.

Corações Feridos (2012), de Íris Abravanel

Puro folhetim com todos os clichês possíveis do gênero, a novela manteve o ranço melodramático da trama original mexicana (La Mentira), na qual foi inspirada, apesar dos elementos nacionais incorporados. Passou despercebida, consequência de texto, direção e elenco fracos.

Máscaras (2012), de Lauro César Muniz

O primeiro capítulo já causou estranhamento: direção equivocada e texto confuso afastaram o telespectador. A Record viu seu Ibope cair vertiginosamente, o que acabou por deflagrar a pior crise no setor de dramaturgia da emissora desde que foi renovado (em 2004). O horário de exibição foi trocado várias vezes, houve desconforto entre elenco e autor, e o desgaste culminou com a troca do diretor e redução dos 220 capítulos primeiramente pensados para 116. Parte do elenco chegou a divulgar uma “carta de amor à Máscaras“, em que culpava a mídia pela repercussão negativa da novela. Uma lástima.

Guerra dos Sexos (2012-2013), de Silvio de Abreu

Sabe um remake que não deveria ter acontecido? O texto original (de 1983) estava totalmente anacrônico em 2013. Fora isso, um elenco mal escalado e a direção infantiloide de Jorge Fernando, que em nada lembrava o auge de sua criatividade nos anos 80, quando dirigiu a primeira versão da novela. Puro erro de cálculo da emissora: o vanguardismo da trama não fazia mais sentido nos anos 2010. E nem o público tinha interesse nessa proposta.

Babilônia (2015), de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga

Novela que penou com rejeição e repercussão negativa. A estreia foi excelente, mas o autores pesaram a mão nas temáticas abordadas, provocando e assustando o público mais tradicional. De cara, sem aviso prévio, um beijo carinhoso e demorado entre as lésbicas vividas por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg. Nas semanas seguintes, a novela desvendou um roteiro inconsistente. Várias modificações na trama e em perfis de personagens foram providenciadas, mas de nada adiantaram. Tanto se mexeu que a novela se transformou em um remendo só, com tramas alinhavadas às pressas e personagens mal costuradas e descaracterizados. Uma “novela Frankenstein”.

A Lei do Amor (2016-2017), de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari

Os problemas já começaram na primeira fase, que se revelou desnecessária e só serviu para confundir o público. Outro problema: elenco inchado com muitos atores jovens e desconhecidos do público, o que causava confusão na hora de ligar os vários núcleos. Com a baixa repercussão, veio o enxugamento da história e elenco, com a saída de personagens para que a trama ficasse mais objetiva. E no afã de ajustar a obra ao gosto da audiência, aconteceu o pior: a mudança de personalidade de vários personagens.

O Outro Lado do Paraíso (2017-2018), de Walcyr Carrasco

Novela massacrada por todos os lados por críticas à qualidade do texto e da trama, mas com Ibope altíssimo. Para dar conta da trama ágil, o autor abriu mão de um texto mais elaborado e caiu no simplismo de diálogos repetitivos e rasteiros em entrechos batidos e situações forçadas. Conquistou a audiência, mas foi um festival de maniqueísmo, reiteração de falas e tramas, diálogos tatibitate, personagens de pensamentos e comportamentos anacrônicos, “desserviços” nas abordagens de cunho social e humor de gosto duvidoso, carregados pela mão pesada do autor, sem filtro, nuances, meios-termos ou sutilezas.

Apocalipse (2017-2018), de Vivian de Oliveira

Uma grande decepção para a Record. A emissora investiu pesado na novela, mas ela naufragou na audiência. Pior foi a crise nos bastidores envolvendo Cristiane Cardoso, filha de Edir Macedo (dono da emissora e da IURD), que atuava como supervisora. Suas interferências, sem aviso prévio, no texto da autora Vívian de Oliveira, na edição dos capítulos e em decisões da narrativa pegaram de surpresa autora e atores. Divergências com a direção da Record levaram Vivian a deixar a novela antes da conclusão dos trabalhos.

O Sétimo Guardião (2018-2019), de Aguinaldo Silva

O retorno do autor ao realismo fantástico não foi satisfatório. O que se viu foi um claro desentendimento entre o que o autor queria fazer e que foi feito pela direção. Mais do que a audiência abaixo da mínima esperada para o horário, a novela, se repercutiu, foi negativamente, repleta de polêmicas de bastidores: o processo movido contra o autor pelo aluno que reivindicava a coautoria da novela; o figurante que passou mal durante uma gravação e veio a óbito; desentendimentos entre atores do elenco; e a fofoca de um suposto caso extraconjugal do ator José Loreto, que ganhou proporções gigantescas e acabou batizada de Surubão de Noronha. A novela culminou com o fim do contrato exclusivo que Aguinaldo Silva tinha com a TV Globo, depois de 41 anos de serviços prestados à emissora.

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A Dona do Pedaço (2019), de Walcyr Carrasco.

Mais do que um êxito de audiência, a novela foi um sucesso de faturamento, com inovadoras ações de merchandising inseridas na trama que abriram caminho para um novo panorama no setor. Porém, o autor repetia a fórmula de O Outro Lado do Paraíso: conquistar Ibope com texto raso e de fácil assimilação pelo público. Assim, não conseguiu escapar das críticas à história manjada e inverossímil, ao texto superficial e infantil e aos personagens simplicistas. Na verdade, pode-se colar aqui toda a descrição acima de O Outro Lado do Paraíso.

Escaparam de estar entre as 10 primeiras colocadas: Amor à Vida, Balacobaco, Deus Salve o Rei, Em Família, Fina Estampa, Geração Brasil, Haja Coração, Os Dias Eram Assim e Salve Jorge.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor