Por se tratar de um período de férias, não é comum que o princípio do ano seja reservado para a estreia de novelas, sendo a grade normalmente ocupada nesse período por minisséries, filmes e, eventualmente, produções especiais.

No entanto, alguns folhetins fugiram à regra e tiveram suas histórias lançadas logo nos primeiros dias de janeiro.

Confira 10 exemplos na lista:

Pé de Vento

Nuno Leal Maia

A então Bandeirantes iniciou 1980 com esta novela, muito bem avaliada por público e crítica, que conta a história de Edmar (Nuno Leal Maia), apelidado “Pé de Vento” por ser um corredor. Seu sonho é vencer a tradicional Corrida de São Silvestre, promovida anualmente em São Paulo.

Esta foi a primeira trama assinada por Benedito Ruy Barbosa na emissora (a outra foi Os Imigrantes). Em razão da temática, um capítulo especial de lançamento foi exibido em 31 de dezembro de 1979, logo depois da transmissão da São Silvestre.

Irmãos Coragem

Marcos Palmeira

A épica história protagonizada pelos irmãos João, Jerônimo e Duda, cuja versão original fora exibida entre 1970 e 1971, teve um remake 25 anos depois, marcando o início das comemorações do aniversário de 30 anos da Globo.

Iniciada em 2 de janeiro de 1995, no horário das 18h (diferentemente da novela original, que ocupava o horário nobre), a nova versão pode ter sido prejudicada justamente por ter sido exibida nessa faixa, historicamente associada a tramas leves.

Seus índices de audiência não foram satisfatórios e houve problemas internos, como os desentendimentos entre o autor Dias Gomes (1922-1999) – principal encarregado do remake, já que a história original foi escrita por sua esposa, Janete Clair (1925-1983) – e o diretor Luiz Fernando Carvalho, afastado da produção por volta do 55º capítulo e substituído por Reynaldo Boury.

João Brasileiro, o Bom Baiano

Jonas Mello

Uma das últimas produções da Tupi, esta novela foi ao ar entre janeiro e setembro de 1978 e narra a trajetória do jornalista baiano João Brasileiro Ferreira Leitão – interpretado por Jonas Mello, que, visando deixar para trás uma vida marcada por desilusões (incluindo um casamento desfeito) em sua terra natal, resolve se mudar para São Paulo a fim de recomeçar.

Vindo de uma família tradicional na Bahia, o jornalista acaba indo morar em uma pensão na capital paulista, onde ganha o apelido de “O Bom Baiano” e conhece a enfermeira Júlia (Márcia Maria), por quem se apaixona.

A novela teve percalços tanto com o canal, já vivendo uma grave crise financeira, quanto com o autor, diretor e supervisor, o temperamental Geraldo Vietri (1927-1996). Entre outros problemas, esse acúmulo de funções provocou recorrentes atrasos na gravação dos capítulos.

A Selvagem

Ana Rosa

A recatada freira Estela e a misteriosa cigana Esmeralda eram irmãs, sósias ou personalidades diferentes de uma mesma pessoa? A dúvida pairava entre os telespectadores que acompanhavam esta novela, lançada pela Tupi em 4 de janeiro de 1971 como um remake, reeditado por Geraldo Vietri, de Alma Cigana (1964), de Ivani Ribeiro.

Ana Rosa deu vida a Estela e Esmeralda em ambas as versões. Posteriormente, descobriu-se que as duas eram irmãs gêmeas, separadas logo após o nascimento.

A Selvagem, mesmo tendo sido muito curta (aproximadamente dois meses), representou o início de uma recuperação da emissora, que vinha de um fracasso com a novela antecessora no horário das 20h (Toninho On The Rocks).

Escalada

Escalada

A história do caixeiro-viajante Antônio Dias (papel de Tarcísio Meira), com um arco temporal que vai de 1940 a 1975, é o fio condutor deste grande sucesso do horário nobre da Globo – o primeiro assinado por Lauro César Muniz -, que chegou ao público no Dia de Reis (6 de janeiro) de 1975.

Amores, conflitos, fracassos com plantações de algodão e a escalada de Antônio Dias rumo à riqueza com a construção de Brasília (DF) foram mostrados em 199 capítulos. A novela também foi um dos destaques da programação da emissora no ano em que esta completava sua primeira década.

Pedra sobre Pedra

Pedra sobre Pedra

As famílias Pontes e Batista, da mesma forma que os Montecchio e os Capuleto de Romeu e Julieta, eram rivais e tinham membros que se apaixonaram: no caso da obra de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, exibida pela Globo de 6 de janeiro a 31 de julho de 1992, os envolvidos eram Leonardo (Maurício Mattar) e Marina (Adriana Esteves), respectivamente filhos de Murilo Pontes (Lima Duarte) e Pilar Batista (Renata Sorrah), verdadeiros inimigos íntimos de longa data.

Mas o principal destaque da trama é o realismo fantástico, uma das marcas registradas de Aguinaldo Silva: da flor do fotógrafo Jorge Tadeu (Fábio Jr.) a Cândido Alegria (Armando Bógus) e seu inusitado desfecho como estátua de pedra.

Deus Salve o Rei

Tata Werneck

A ambientação na Idade Média não foi tão explorada na teledramaturgia brasileira. Somente por isso, Deus Salve o Rei já mereceria uma atenção especial. Mas, tendo sido selecionada para esta lista por sua data de estreia (9 de janeiro de 2018), vale ressaltar que a Globo não mediu esforços nem investimentos para a produção de época, tecnicamente impecável.

Direcionada principalmente ao público jovem, fã de séries como Game of Thrones, a novela também lidou com críticas e, por isso, passou por algumas providenciais correções de rota a fim de evitar o que seria um fracasso retumbante. O autor, Daniel Adjafre, teve o auxílio decisivo do experiente Ricardo Linhares para garantir uma virada nos índices de audiência.

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O Salvador da Pátria

Lima Duarte

No início de 1989, o Brasil respirava os ares da redemocratização pós-regime militar com mais intensidade, já que haveria uma eleição presidencial no país depois de longos 29 anos. Contudo, bem antes das disputas entre Fernando Collor de Mello, Luiz Inácio Lula da Silva e outros candidatos, a Globo chamou a atenção com a história do simplório boia-fria Sassá Mutema (Lima Duarte), que foi ao ar em 9 de janeiro.

Usado pelo poderoso deputado federal Severo Toledo Blanco (Francisco Cuoco) para encobrir o caso deste com Marlene (Tássia Camargo), ele acaba sendo envolvido em uma perigosa trama, onde enfrenta a acusação de duplo homicídio – Marlene e também o corrupto radialista Juca Pirama (Luis Gustavo) são assassinados a tiros.

Depois de provar sua inocência, Sassá ganha popularidade e se torna prefeito da pequena cidade de Tangará. Por sua origem humilde e posterior projeção política, o personagem foi comparado a Lula, que perdeu a eleição na vida real.

Transas e Caretas

Natalia do Valle

O ano de 1984 começou com a saga de Francisca Moura Imperial (Eva Wilma), apelidada FMI não só por estas serem suas iniciais, mas principalmente por bancar Roberto Leme (Paulo Goulart), seu ex-marido parasita, e os filhos Jordão (Reginaldo Faria) e Thiago (José Wilker). Interessada na continuidade da família, busca uma esposa ideal para que ao menos um de seus filhos lhe dê a alegria de ser avó.

A escolhida foi Marília Braga (Natália do Valle), inicialmente apenas interessada no dinheiro oferecido pela futura sogra. Porém, ela se apaixona de fato por Thiago, embora os dois irmãos a quisessem.

As referências a tramas futuristas, a exemplo do romance 1984, de George Orwell, e do filme 2001, Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, foram alguns dos elementos que atraíram o interesse do público, embora a crítica especializada tenha considerado que a trama foi demasiadamente esticada (teve 167 capítulos).

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Verão Vermelho

Dina Sfat

Exibida pela Globo no Rio de Janeiro entre novembro de 1969 e julho de 1970, esta novela de Dias Gomes teve um segundo período de transmissão em São Paulo, com a estreia em 10 de janeiro de 1970 e o encerramento em 17 de julho do mesmo ano.

Foram 209 capítulos que tiveram Adriana (Dina Sfat) como protagonista, em sua luta para sair de um casamento frustrado com Carlos Serrano (Jardel Filho), um homem rude e dominado pela mãe, Jandira (Ida Gomes), que detesta a nora.

A história ficou marcada por sangrentos conflitos entre as famílias Serrano e Morais, que disputavam terras. Assim como outras produções do período, Verão Vermelho notabilizou-se como uma das primeiras novelas “modernas”, mais alinhadas com o cotidiano real dos brasileiros.

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Entusiasta da história da televisão brasileira, Jonas Gonçalves é jornalista e pesquisador, sendo colaborador do TV História desde a sua criação, em 2012. Ao longo de quase 20 anos de profissão, já foi repórter, editor e assessor de comunicação, além de colunista sobre diversos assuntos, entre os quais novelas e séries Leia todos os textos do autor Leia todos os textos do autor