Na história da televisão brasileira, nem sempre o primeiro nome pensado para as novelas acabam sendo utilizados. São conhecidos inúmeros casos, tanto de tramas que fizeram muito sucesso, como de outras que fracassaram, que deveriam ser intituladas de outra forma.

Na maioria dos casos, é dado um título provisório para a trama enquanto não chega a ideia definitiva. Nem sempre esse nome é o ideal e a emissora, inclusive, teme a rejeição por parte do público.

Quem passou por isso mais de uma vez foi Janete Clair (1925-1983), uma das maiores autoras da história da televisão brasileira. Nada menos do que seis novelas escritas por ela tiveram seus nomes alterados antes da estreia.

Giovanna Antonelli em Quanto Mais Vida, Melhor

O fato não se resume ao passado. A atual novela das nove da Globo, Um Lugar ao Sol, por exemplo, se chamaria Em Seu Lugar.

Já a nova novela das sete, que estreou no dia 22 de novembro, se chamaria A Morte Pode Esperar, mas teve seu título trocado para Quanto Mais Vida, Melhor por causa da pandemia de Covid-19.

Confira na lista:

Pecado Capital

Quando Roque Santeiro foi proibida pela Censura, em 1975, Janete Clair correu e escreveu uma nova trama, intitulada inicialmente O Medo. Os dirigentes da Globo não acharam o nome chamativo e buscaram outro. A novela acabou sendo chamada de Pecado Capital.

“Os títulos sempre eram decididos em reuniões – Boni, eu e João Carlos Magaldi com sua equipe. Sem falar no autor, que deve sempre aprovar o título. Pecado Capital quer dizer tudo, luxúria, inveja, ódio, ambição etc. É um título feliz para uma novela que seria chamada O Medo, por conta do que Carlão passa a sentir por estar com aquele dinheiro e pelo risco de ser envolvido no assalto”, ressaltou o diretor Daniel Filho em seu livro “O Circo Eletrônico”.

Duas Vidas

Depois de Fogo Sobre Terra (1973) e Pecado Capital (citada acima), mais uma novela de Janete Clair mudou de nome. A trama, apresentada entre 1976 e 1977, se chamaria O Metrô, já que abordava os transtornos causados pelas obras do sistema de transporte no Rio de Janeiro (RJ).

No entanto, a Globo ficou com receio da implicância da Censura. O título escolhido foi Duas Vidas, que retratava os personagens de Betty Faria e do menino Carlos Poyart, mãe e filho na história.

No entanto, de acordo com nosso colunista Nilson Xavier, o nome foi estratégico. “Duas Vidas também poderia ser interpretado como a vida antes e depois do advento do metrô”, explicou.

Coração Alado

Janete Clair havia sugerido nomes como Vernissage e O Grande Salto para a trama estrelada por Tarcísio Meira. No entanto, nenhum deles agradou ao todo-poderoso da Globo na época, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni.

Ele estava encantado com a música Noturno, de Fagner, e colocou a autora para ouvi-la, conseguindo convencê-la a chamar a novela de Coração Alado, que faz parte da canção. Por causa disso, inclusive, essa música ficou mais conhecida dessa forma.

Chega Mais

Esquecida novela da Globo, Chega Mais era para ter outro nome. Mas a emissora teve que mudar de ideia por conta dos proibitivos custos de direitos autorais. A trama, escrita por Carlos Eduardo Novaes, com supervisar de texto de Walther Negrão, deveria ser intitulada Tom e Gelly, em referência aos nomes dos protagonistas, que viviam brigando como gato de rato.

Mas a Globo foi ver quanto custava para ter um título similar ao tradicional desenho Tom & Jerry e desistiu. Com isso, a música de abertura também foi trocada: saiu Corre Corre e entrou Chega Mais, de Rita Lee, que acabou nomeando a produção.

A Gata Comeu

No entanto, no quesito “títulos provisórios”, nenhuma trama ganha de A Gata Comeu, remake de A Barba Azul (1974), da Tupi, que a Globo produziu em 1985 e teve grande sucesso.

A novela de Ivani Ribeiro (1922-1995) poderia ter sido chamada de Pancada de Amor Não Dói, Lucrécia Bórgia, Bateu Levou, Tapas e Beijos e A Ilha.

No final das contas, acabou prevalecendo um trecho da música de abertura, “Comeu”, interpretada pelo grupo Magazine, que pode ser interpretado como a protagonista Jô Penteado (Christiane Torloni) comendo os corações de seus inúmeros pretendentes.

Vale Tudo

Você acredita que Vale Tudo, um dos maiores sucessos da história da televisão brasileira, poderia ter sido chamada de Pátria Amada? Essa era a ideia inicial do autor e dos executivos da Globo.

Mas existia um obstáculo: um filme homônimo, dirigido por Tizuka Yamazaki, lançado três anos da estreia da novela, em 1985. Dessa forma, optou por outra opção.

Renascer

A saga do coronel José Inocêncio (Antônio Fagundes) provisoriamente iria se chamar Bumba Meu Boi. O título foi amplamente divulgado pela imprensa nos dois primeiros meses de 1993.

No entanto, ainda em fevereiro daquele ano, a Globo se decidiu por Renascer, que acabou se tornando mais um grande sucesso de Benedito Ruy Barbosa.

“Bumba Meu Boi lembrava muito o folclore. Ficava muito marcado. Eles, então, fizeram uma pesquisa com centenas de nomes e Renascer foi o que melhor passou a mensagem da novela: até no confronto com a própria morte, a vida sempre vence, está acima de tudo. É um título otimista”, explicou o autor ao Jornal do Brasil de 6 de março de 1993.

Agora é Que São Elas

Exibida entre março e setembro de 2003 e com baixa audiência no início, Agora é Que São Elas provavelmente ficará muito tempo esquecida no arquivo da Globo.

A trama de Ricardo Linhares, inspirada em ideia original de Paulo José, se chamaria Cidade das Mulheres.

No entanto, a Globo já exibia Mulheres Apaixonadas, na faixa das oito, e a minissérie A Casa das Sete Mulheres. Para evitar uma overdose de títulos similares, optou-se pelo nome escolhido, que, convenhamos, não foi dos mais felizes.

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Senhora do Destino

Sucesso de Aguinaldo Silva exibido entre 2004 e 2005 pela Globo, Senhora do Destino por pouco não se chamou Dinastia. Esse título, inclusive, foi amplamente divulgado pela imprensa nos primeiros meses de 2004.

No entanto, o nome foi registrado por uma pessoa, de acordo com a própria Globo, impossibilitando seu uso pela emissora. Dessa forma, acabou-se optando por Senhora do Destino, cuja confirmação veio no início de maio daquele ano.

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Morde & Assopra

A novela das sete de Walcyr Carrasco, exibida entre março e outubro de 2011, se chamaria Dinossauros e Robôs, por abordar esses temas em sua trama. No entanto, no final das contas, a Globo acabou optando por Morde & Assopra, o que se mostrou uma decisão acertada.

“Ainda bem que não ficou, pois além da história robótica ter sido atenuada, os dinossauros acabaram sumindo da trama por rejeição do público. A primeira reunião do grupo de discussão, que avalia o andamento da novela, apontou que os dinos não agradaram. Talvez por isto a novela tenha derrapado no Ibope nos primeiros meses”, destacou Nilson Xavier em seu site.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor