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Dando continuidade à proposta de listar as novelas que dificilmente serão escaladas para a faixa Vale a Pena Ver de Novo da Globo (iniciada na semana passada com as produções das 19 horas), passemos agora às tramas do horário das seis.
Neste caso, constata-se que, o que mais pesa, afora a audiência aquém da expectativa, é a repercussão e a lembrança do público, menor em relação às outras.
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Das 20 novelas das seis dos últimos dez anos, 5 foram reprisadas (Cordel Encantado, A Vida da Gente, Flor do Caribe, Eta Mundo Bom! e Novo Mundo) e 5 vejo chances de retornarem (Lado a Lado, Joia Rara, Além do Tempo, Orgulho e Paixão e Órfãos da Terra).
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As 10 restantes, apesar da excelente qualidade da maioria, e de aclamadas pela crítica, não me parecem ter força para levantar a audiência do final da tarde, que prepara o horário nobre.
São elas:
Araguaia (2010-2011)
Novela soturna de Walther Negrão que não está entre as suas melhores obras – apesar das belezas das locações. A história parecia requento de outras novelas do autor. Ainda nenhum personagem carismático marcante, ou que ficasse para a posteridade.
Amor Eterno Amor (2012)
Com uma trama lenta e arrastada, a autora Elizabeth Jhin levou a metade da novela para apresentar a antagonista no amor entre os mocinhos. Entretanto, a chegada da personagem de Mayana Neiva não garantiu agilidade para a trama. A autora só apressou sua história no último mês de exibição.
Não apenas a trama principal, mas a novela como um todo: os meses foram passando e as tramas paralelas patinaram junto com a história central. Salvaram da morosidade os personagens de Cassia Kiss e Osmar Prado.
Meu Pedacinho de Chão (2014)
A audiência não seguiu a proposta lúdica deste remake de Benedito Ruy Barbosa. Apesar de toda a inventividade, beleza plástica e proposta teatral, que soaram como novidade para o universo da telenovela, a produção patinou no Ibope. Eu, particularmente, reveria com gosto!
Boogie Oogie (2014-2015)
O autor Rui Vilhena contou uma trama repleta de clichês do folhetim de forma ágil e dinâmica. Um mérito e tanto se considerarmos que enfrentou as festas de fim de ano e o horário de verão. Todavia, o ibope foi baixo para os padrões da época.
Lamenta-se a perda de agilidade na trama em sua segunda metade. O autor não teve fôlego para manter por 7 meses seguidos o ritmo ágil inicial. A história central já havia sido contada, restando apenas a enrolação do famigerado “segredo de Carlota”, que transformou a história em um pastiche policial.
Sete Vidas (2015)
Apesar do texto de qualidade, sensível, de personagens humanos, de muitas camadas, característicos da autora Lícia Manzo, a novela não era popular, tendo registrado audiência baixa. Porém, é a trama curta (106 capítulos) que mais a impede de ir para a tarde, em que se privilegia novelas longas (ainda que a tesoura as diminua quando a audiência não vai bem).
Sol Nascente (2016-2017)
A produção assinada de Walther Negrão estreou sob uma polêmica que gerou uma propaganda negativa para a novela: a escolha do ator Luís Mello para interpretar o japonês Tanaka. A novela teve de justificar várias vezes no texto que Tanaka era filho de um japonês com uma americana.
Também Giovanna Antonelli, como Alice, a filha branca do japonês – na trama, foi explicado que ela era sua filha de criação. Alvo de críticas de grupos de filiação oriental, a Globo foi questionada e cobrada por não ter escalado atores de origem nipônica para os personagens, em vez de remendar com explicações sobre suas ascendências.
Contudo, a polêmica voltou à tona em agosto de 2020, com a declaração da atriz Danni Suzuki de que o autor criou a protagonista Alice para ser interpretada por ela, o que foi confirmado por Negrão. A Suzuki foi explicado que Alice teria de ser vivida por uma atriz mais jovem. Porém, quem ficou com o papel foi Giovanna Antonelli, mais velha que Danni Suzuki.
Negrão foi obrigado a mudar seu roteiro para ajustar a nova protagonista à intérprete e justificar na trama por que a personagem não lembrava uma japonesa. Certamente, esta teria sido uma novela bem mais simpática ao público se tivesse se guiado pelo básico e elementar: uma trama sobre personagens de ascendência japonesa vividos por atores, no mínimo, com traços japoneses.
Ainda que a escalação não fosse errada, a novela, por mais de sua metade, patinou em uma trama mal alinhavada e preguiçosa, em um texto piegas. Na ausência de um fio condutor consistente, reuniu um amontoado de estereótipos humanos em clichês novelísticos, ante a ausência de grandes personagens. A única exceção foi Laura Cardoso, o ponto fora da curva.
Tempo de Amar (2017-2018)
O público vinha de uma novela movimentada e alegre (Novo Mundo) e, a princípio, estranhou em Tempo de Amar a desaceleração no ritmo e o excesso de sofrimento dos personagens nas primeiras semanas, o que rendeu à produção a alcunha de Tempo de Sofrer.
Aos poucos a trama de Alcides Nogueira foi agradando. Porém, apesar da qualidade do texto e da produção, não parece uma novela que o público guarda na memória afetiva, nem com força para uma reprise.
Espelho da Vida (2018-2019)
Ótima trama de Elizabeth Jhin, mas que penou para despertar o interesse do grande público. A novela passou mais de sua metade cambaleando na audiência, abaixo da esperada para o horário, enfrentando o fim de ano, o verão e a concorrência, no caso, o bom desempenho na audiência do Cidade Alerta, da Record TV.
Éramos Seis (2019-2020)
Apesar da reverência à memória afetiva do público (pelas versões anteriores, da Tupi, de 1977, e do SBT, de 1994), a versão de Angela Chaves para a novela de Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho não parece ter força para uma reprise que precisa preparar terreno para o horário nobre. É uma boa novela, mas na concorrência com outros títulos, sai perdendo.
Nos Tempos do Imperador (2021-2022)
Um dos maiores equívocos da Globo. Logo no início, uma sequência infeliz repercutiu mal: uma fala que sugere racismo reverso proferida por um personagem negro para uma branca. Respondendo a um post crítico no Instagram, a autora Thereza Falcão alegou que a cena foi escrita em 2018, quando os roteiristas ainda não contavam com uma assessoria especializada.
A novela foi ainda criticada pela demasiada liberdade com que o roteiro reproduzia fatos, com um certo revisionismo histórico na representação de Dom Pedro II e no reforço de mitos sobre negros, escravidão e abolição por meio da romantização de uma democracia racial que não existia na época retratada.
Outro dissabor aconteceu após o final da novela. As atrizes Cinara Leal, Dani Ornellas e Roberta Rodrigues procuraram a direção da Globo para reclamar de posturas discriminatórias contra atores negros por parte do diretor artístico Vinícius Coimbra. O diretor acabou demitido.
Fecho essa sequência de textos na semana que vem, com as novelas do horário das 9 que dificilmente serão reprisadas no Vale a Pena Ver de Novo.