Relembro abaixo 10 momentos em que a mídia destacou os concorrentes, que ameaçavam a audiência das novelas globais com opções que fizeram o público sair do automático (ou seja, da Globo), trocar de canal e ainda fizeram a concorrência sair do comodismo.

Confira:

1 – EspelhoMágico/O Astro x O Profeta

Em 1977, a Globo enfrentou maus bocados com a novela Espelho Mágico. “Foi uma queda de quase 20 pontos na audiência, numa época em que a TV Globo era a dona absoluta no horário“, reconheceu o diretor Daniel Filho em seu livro “O Circo Eletrônico”. Quando a novela estava na metade, a TV Tupi estreou no mesmo horário O Profeta, de Ivani Ribeiro e o público começou a trocar de canal. Em dezembro de 1977, após Espelho Mágico, a Globo lançou O Astro, de Janete Clair, inclusive com ingredientes semelhantes aos usados em O Profeta.

A novela da Globo estreou quando a da Tupi estava no auge da popularidade. Na noite de 19/01/1978, O Profeta conseguiu desbancar O Astro, alcançando uma média de audiência em São Paulo de 36.7 contra 33.3. A Globo respirou aliviada em abril, quando O Profeta chegou ao fim. O Astro, por sua vez, passadas as dificuldades iniciais, conquistou definitivamente o público e tornou-se mais um grande sucesso para a Globo.

2 – Rainha da Sucata/Araponga x Pantanal

Rainha da Sucata, de Silvio de Abreu, estreou em abril de 1990, em um momento em que a mídia preferiu endossar as novidades da novela Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa, da TV Manchete, lançada na mesma época e com grande repercussão. Há de se ressaltar que Pantanal não concorria diretamente com Rainha da Sucata no horário: a novela da Manchete só começava depois que terminava a da Globo.

Silvio de Abreu desabafou para o livro “Biografia da Televisão Brasileira”, de Flávio Ricco e José Armando Vannucci: “As duas nunca concorreram, mas a imprensa só publicava comparações. Tinha noites que eu chegava aos 70 pontos de pico e mais tarde o Benedito atingia 40. Aí só falavam dele!”.

Para enfrentar Pantanal, a Globo lançou, em outubro de 1990, às 21h30, a novela Araponga. No último mês de Rainha da Sucata, a Manchete nem a esperava mais terminar o capítulo e já colocava sua novela no último bloco da novela da Globo. Foi assim com a produção seguinte, Meu Bem Meu Mal, que enfrentou essa concorrência de último bloco durante os meses restantes de Pantanal.

De nada adiantou Araponga: a novela da Manchete foi uma produção vitoriosa, fechando com 34 pontos de média final, o maior índice da história da dramaturgia da Manchete. O último capítulo (exibido em 10/12/1990) conseguiu a proeza de registrar praticamente o dobro do Ibope da Globo: 41 pontos.

3 – O Dono do Mundo x Carrossel/Rosa Selvagem

Quando O Dono do Mundo estreou, os telespectadores torceram o nariz. Quem ganhou com essa rejeição foi o SBT, que na época apresentava duas novelas mexicanas que concorriam diretamente com a novela da Globo: Carrossel e Rosa Selvagem.

A infantil Carrossel foi uma febre no Brasil, mas a exibição com O Dono do Mundo coincidia apenas durante o último bloco da novelinha mexicana. O desinteresse do público pela trama de Gilberto Braga em face ao sucesso de Carrossel chegou a ser capa da revista Veja.

4 – Perigosas Peruas x Aqui Agora

No início, Perigosas Peruas enfrentou forte concorrência com o jornalístico Aqui Agora, do SBT. O autor da novela, Carlos Lombardi, comentou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”: “Foi uma das primeiras vezes em que vimos como era difícil concorrer com esse tipo de programa apelativo, que explora o crime, a tragédia e outras coisas inacreditáveis. Mas a direção da Globo foi calma o suficiente para lidar com isso e, no segundo mês de exibição, a novela pegou”.

5 – Torre de Babel/Suave Veneno x Ratinho

Quando Torre de Babel, de Silvio de Abreu, estreou, seu maior concorrente era o programa Ratinho Livre, apresentado por Carlos Roberto Massa na TV Record. Roubou muitos pontos da novela global na fase em que esta sofreu com a rejeição do público. A partir de 08/09/1998, Ratinho estreou seu programa no SBT, mas já não representava mais uma ameaça à Torre de Babel, que havia conquistado o público e estava com o Ibope nas alturas.

Porém, com o fim de Torre de Babel, estreou Suave Veneno, de Aguinaldo Silva, que enfrentou rejeição ao longo de toda a sua trajetória, tendo como principal obstáculo o Programa do Ratinho no SBT.

Aguinaldo Silva comentou a André Bernardo e Cíntia Lopes para o livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”: “Quando entrava o comercial na Globo, a audiência fugia toda para o SBT. A diferença é que, ao contrário do que o Ratinho apregoava, ele nunca conseguiu ganhar de Suave Veneno. O máximo que conseguiu foi chegar a 5 pontos de diferença na hora do intervalo comercial”.

6 – As Filhas da Mãe/Desejos de Mulher x programas policialescos

Em 2000-2001, a audiência da novela As Filhas da Mãe ficou muito abaixo da esperada, fazendo com que ela fosse encurtada. Em entrevista ao TV Folha (em 20/01/2002), o autor Silvio de Abreu reclamou: “A novela competia com programas policiais e, no segundo dia de veiculação, a filha do Silvio Santos foi sequestrada. O povo não tinha paciência de esperar o Jornal Nacional e migrou para outros canais. (…) A terceira semana começou bem, mas aí aconteceu o atentado ao World Trade Center [11 de setembro de 2001]. Quando o telespectador se voltou para a novela, não entendeu nada”.

A substituta de As Filhas da Mãe foi Desejos de Mulher, de Euclydes Marinho. A novela começou com o pé esquerdo e todos buscavam um vilão: o assassinato do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, o que teria levado o público a preferir programas policiais; ou o repentino apagão que ocorreu em alguns estados brasileiros, o que levou a Globo a apresentar um compacto do primeiro capítulo no segundo dia de exibição da novela. Contudo os transtornos não foram só no primeiro capítulo e sim durante todo o tempo em que a novela esteve no ar.

7 – O Clone x Casa dos Artistas

A novela de Glória Perez foi o porto seguro da Globo quando a emissora sofreu um dos maiores baques de sua história: o fenômeno Casa dos Artistas, que o SBT estreou de surpresa em 28/10/2001, 27 dias após a estreia de O Clone. O forte impacto do reality show da concorrente só não foi mais trágico porque a trama de Glória Perez, mesmo no início, conseguia manter a audiência da Globo.

8 – Bang Bang x Prova de Amor

Com uma proposta “diferente e inovadora”, Bang Bang não conseguiu cativar o público, fato refletido nos números de Ibope, considerados baixos para o horário. Em contrapartida, a Record festejou os números de sua novela Prova de Amor, concorrente no horário – uma trama com todos os ingredientes básicos do folhetim e com cara de novela das sete da Globo.

Ficando sempre em segundo lugar na audiência, a novela da Record roubou vários espectadores de Bang Bang, que encontraram na concorrente o que sentiram falta na trama da Globo.

9 – A Favorita x Os Mutantes

A estreia de A Favorita obteve a pior audiência de uma novela da Globo das 21 horas até então: média de 35 pontos no Ibope da Grande SP. Um dos culpados foi a estratégia da concorrente Record. Para prejudicar a estreia da nova trama global, a emissora de Edir Macedo antecipou (com grande estardalhaço) para as 20h40 a apresentação do último capítulo de sua novela Os Mutantes – Caminhos do Coração (anteriormente exibida às 22 horas). Este último capítulo conseguiu uma média de 23 pontos no Ibope da Grande São Paulo.

O fato é que a novela de João Emanoel Carneiro custou para “pegar”. A Favorita ganhou novo fôlego com a revelação de que Flora (Patrícia Pillar) era a assassina, fazendo assim com que a personagem-vilã cativasse finalmente a audiência – enquanto a novela concorrente da Record (as continuações de Os Mutantes) derrocava no Ibope.

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10 – Babilônia/A Regra do Jogo x Os Dez Mandamentos

Babilônia ganhou a pecha de uma das mais problemáticas novelas da história da Globo, com forte rejeição e derrocada no Ibope. A concorrência estava bem munida: novelas infantis no SBT e a melhor novela bíblica da Record: Os Dez Mandamentos. A produção substituta na Globo, A Regra do Jogo, herdou de Babilônia o horário com a audiência em baixa e forte concorrência com o auge de Os Dez Mandamentos, com pragas do Egito e travessia do Mar Vermelho.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor