Na rica história da teledramaturgia da Globo, inúmeras novelas, mesmo de grande sucesso, tiveram sérios problemas nos bastidores. Foram brigas entre artistas, autores e diretores, demissões, desistências, problemas de saúde e muito mais, incluindo fatos pitorescos.
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Confira 10 exemplos na lista abaixo:
Paixão nos bastidores
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Uma novela mexicana nos bastidores de uma produção da Globo. Pode-se definir assim o que aconteceu ao longo das gravações de A Gata de Vison, exibida pela emissora entre 26 de junho de 1968 e 6 de janeiro de 1969.
Além de não ter feito sucesso, a trama ficou marcada por um fato inusitado: a autora, Glória Magadan (1920-2001), se apaixonou por um dos artistas do elenco, Geraldo Del Rey (1930-1993).
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O personagem do ator, Gino Falconi, inicialmente um vilão, foi crescendo e se transformando, a ponto de se tornar protagonista, papel que cabia a Bob Ferguson (Tarcísio Meira).
O crescimento de Falconi causou efeito reverso para Ferguson: foi se descaracterizando, a ponto de ficar perdido entre ser o mocinho ou o verdadeiro vilão da novela. Tarcísio evidentemente ficou descontente e pediu para deixar a trama, sendo substituído por Milton Rodrigues.
“Um dia, ao receber os capítulos para gravar na semana seguinte, Tarcísio Meira leu e foi direto ao departamento de produção. ‘Ou grava a minha morte essa semana, ou meu personagem pega o próximo trem e não volta’. O personagem não voltou”, contou nosso colunista Nilson Xavier em seu site Teledramaturgia.
Sapateando em cima do roteiro
Após sucessos como Carinhoso, Escalada e O Casarão, Lauro César Muniz teve um forte revés na Globo entre 1979 e 1980, quando escreveu Os Gigantes para a faixa das oito da emissora.
Considerada depressiva, a trama abordou temas como doença, eutanásia, aborto, brigas familiares, processos judiciais e, no final, para completar, a protagonista se suicidou. Não tinha como dar certo.
Além disso, Dina Sfat, que vivia a protagonista, mostrou seu descontentamento público sobre a produção.
“Era uma novela mórbida, pesada, infeliz. Dina Sfat rompeu comigo. Ela chegava no estúdio, pegava o script, jogava no chão e sapateava em cima: ‘Não vou fazer essa droga de jeito nenhum’, ela gritava”, contou.
Mau hálito
Exibida entre junho de 1988 e fevereiro de 1989, Bebê a Bordo fez sucesso na faixa das sete da Globo e recentemente foi disponibilizada pelo Globoplay.
Na trama, Maria Zilda vivia Ângela, uma solteirona reprimida e romântica que apaixona-se pela voz de um locutor de rádio, Tonhão (José de Abreu), com quem tem sonhos e delírios sensuais. No decorrer dos capítulos, ele acaba gostando dela de fato.
O problema, segundo a atriz, é que Abreu tinha um mau hálito insuportável.
“Ele estava numa fase muito doida. Bebia demais. (…) Então, cara, quando era cena de beijo… Porra, a pessoa que fuma pra caramba. Sabe? (…) Era uma coisa insuportável. Evidentemente, ele bebia. Era [cena] externa. Ele suado e já tinha o cheiro do suor, mais o do cigarro, mais o da bebida. Era uma coisa insuportável. O Zé era um bicho”, contou.
Demissão no meio de um capítulo
Atriz que participou de grandes sucessos da Globo, Ísis de Oliveira foi demitida pela emissora de forma inusitada. Em 1990, ela integrava o elenco da novela Meu Bem, Meu Mal, em papel-chave na trama, mas acabou sendo dispensada abruptamente, por ter faltado às gravações de fim de ano, em dezembro daquele ano.
Ao jornal O Dia de 27 de janeiro de 1991, a atriz disse que estranhou a decisão e não recebeu nenhuma explicação oficial da Globo. Também classificou o fato como um “ato autoritário e radical” do diretor Paulo Ubiratan.
A mídia destacou, na época, que Ísis foi a primeira atriz da Globo a ser demitida no meio de um capítulo, exibido em 19 de fevereiro de 1991, através de indiretas colocadas no texto.
“Dona Mimi não existe mais”, disse Sérgio Viotti, na pele de Toledo, marido de Mimi. “Ela foi demitida”, acrescentou. “Nunca tinha ouvido falar em uma esposa demitida”, retrucou Doca. “Digamos que foi demitida por excesso de faltas ao trabalho”, completou Toledo.
Briga feia
Não são poucos os casos de brigas entre artistas durante a produção de uma novela. Um exemplo conhecido publicamente é a treta entre Lúcia Veríssimo e Paulo Gorgulho nos bastidores de Despedida de Solteiro.
Na trama de Walther Negrão, os dois viviam, respectivamente, Flávia e Pedro, que tinham envolvimento romântico; na realidade, nem se falavam.
“A gente teve algumas divergências e nossos santos não cruzaram desde o início da novela, mas as pessoas de casa amavam o casal. Eu não falo com ele nem cumprimento”, declarou a atriz em live com o jornalista Luciano Santiago.
“Pior trabalho que já fiz”
Em 23 de abril de 1994, o ator José de Abreu causou polêmica ao criticar publicamente a novela Sonho Meu, que estava chegando perto do fim na Globo. Na trama, exibida atualmente pelo Viva, ele vivia o violento Geraldo.
“As telenovelas estão transformando o ator em funcionário público. Os textos são péssimos, o ritmo das gravações é infernal. Não dá mais para trabalhar assim”, declarou. Sobre a novela, disparou: “É o pior trabalho que já fiz. A trama não tem pé nem cabeça, está repleta de contradições. O próprio Geraldo é um personagem esquizofrênico. Um dia, dá porrada. No outro, chora como criança. Parece que os autores do texto não conversam entre si”.
Lauro César Muniz, que supervisionava o texto de Marcílio Muniz, não deixou barato:
“O Zé costumava nos ligar para elogiar o personagem. Não entendo por que mudou de opinião”.
Exclusões no meio da trama
Em ascensão desde a metade dos anos 1980, Taumaturgo Ferreira teve problemas em Renascer (1993). Na época, foi divulgado que a emissora (entenda-se autor e diretor) não gostou da construção do personagem pelo ator e decidiu excluí-lo do elenco. O personagem foi morto em uma tocaia.
Taumaturgo acabou ficando alguns anos longe da Globo, voltando na minissérie Labirinto (1998).
“Aquilo refletiu durante muitos anos na minha carreira e percebi que estava cancelado. Demorou muito tempo para passar. Foi o caos na minha vida. Fiquei seis anos na geladeira. Ótimo que depois pude dar a volta por cima. Voltei em O Cravo e a Rosa e depois fiz Celebridade, as duas grandes sucessos”, pontuou o ator ao jornal Extra.
Outro personagem que foi excluído e deu o que falar foi Tião Galinha (Osmar Prado), que era um dos destaques da novela.
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“Novela muito cansativa”
O remake de A Viagem fez muito sucesso em 1994, mas não escapou de ter alguns perrengues nos bastidores. Um deles envolveu o ator Miguel Falabella, que vivia o personagem Raul, e a autora Solange Castro Neves, que ajudou Ivani Ribeiro a atualizar a obra.
Em entrevista à Folha de S.Paulo de 2 de outubro de 1994, Miguel Falabella, que vivia o personagem Raul, fez diversas críticas à produção, que entrava em sua reta final.
“É uma novela muito cansativa de fazer. Tem cenários demais. A ação não é concentrada”, disse o ator, que não culpou a escritora Ivani Ribeiro, mas sua ajudante, Solange de Castro Neves, de acordo com a reportagem.
“É essa moça que está adaptando. Ela coloca a gente em cenas muitas vezes, em todos os cenários, não sei para quê. Isso é uma técnica que o Cassiano [Gabus Mendes], que Deus o tenha, dominava perfeitamente. Ele sabia poupar os atores”, completou.
Solange, evidentemente, não recebeu bem as palavras do ator. Ela ainda citou que a insatisfação de Falabella se deve ao estilo de Raul, que não era cômico.
“Tem muito artista que grava muito mais cenas do que ele e nunca reclamou”, rebateu.
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“Velho caquético
Problemática novela exibida entre 1994 e 1995 pela Globo, Pátria Minha não deixou boas recordações para muitos artistas, incluindo Tarcísio Meira e Vera Fischer.
Além de não empolgar o público, a novela pegou fogo nos bastidores com as intensas confusões de Vera Fischer e Felipe Camargo, que ainda eram casados.
Numa gravação, ela apareceu com o antebraço esquerdo quebrado. A atriz foi afastada e muitas alterações tiveram que ser feitas nos capítulos. Posteriormente, o casal teve seus personagens eliminados da história em um incêndio.
Vera teve muitos atritos com diretores e colegas do elenco, como Tarcísio Meira, a quem ofendeu em entrevista.
“Tarcísio é um velho caquético. Quero que ele e todo mundo da Globo se fodam. Ninguém me expulsou. Eu que pedi a conta”, disse a atriz, por telefone, ao jornal Notícias Populares, em 13 de janeiro de 1995.
O ator respondeu com educação, mas ficou magoado com o fato.
“Gosto muito da Vera. Acho que ela estava num momento muito bom na carreira. Se ela fez alguma declaração a meu respeito, um comentário, ou emitiu algum juízo, acho que pode ter sido envenenada por, alguém num momento em que estava aborrecida, emocionalmente abalada com essa história”, comentou ao jornal O Dia.
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“Chata pra caramba”
Em Vira-Lata, novela das sete exibida em 1996 pela Globo, Andréa Beltrão, que vivia a protagonista Helena, claramente não ficou contente com o papel e chegou a se afastar da produção por alguns capítulos.
“A Andréa Beltrão foi chata pra caramba! Nunca mais pretendo escrever ou trabalhar com ela na vida. E olha que acho a Andréa uma atriz brilhante. Ela não gostava do que estava fazendo. E parecia não gostar com quem estava contracenando”, disparou o autor Carlos Lombardi no livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo, de André Bernardo e Cíntia Lopes.
O próprio autor também declarou, em diversas entrevistas, que detesta a produção, por tudo que aconteceu, se tratando de um trabalho infeliz. Já a atriz não se manifestou sobre o fato.