10 nomes de novelas que nada tinham a ver com suas tramas

27/02/2022 às 14h40

Por: Nilson Xavier
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Nomear uma novela pode ser uma tarefa árdua. Acredito que o mesmo valha para um filme, série ou livro. Associar um título a uma obra requer criatividade e jogo de cintura. Às vezes, o óbvio é um caminho. Outras, opta-se pela sutileza, pelas entrelinhas.

E quando o nome da novela não tem absolutamente nada a ver com a história que vai ao ar?

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Até os anos 1980 – pelo menos -, vários dos títulos de novelas da Globo eram creditados a Boni (foto abaixo), o todo-poderoso da emissora. Ivani Ribeiro, por exemplo, não conseguia emplacar os nomes de suas tramas, que tinham que passar pelo crivo da alta direção da Globo.

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Há os títulos genéricos, aleatórios, que servem para qualquer novela (Memórias de Amor, Final Feliz, Felicidade, História de Amor, Páginas da Vida, Viver a Vida, Alto Astral, Haja Coração, A Lei do Amor).

Uma prática comum era usar o nome de alguma música de sucesso (Chega Mais, Explode Coração, Fascinação, Como uma Onda, Beleza Pura, Totalmente Demais, Segundo Sol) ou uma frase tirada de uma música (Sem Lenço Sem Documento, Final Feliz, Um Sonho a Mais, Insensato Coração).

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Abaixo, cito 10 novelas com títulos que você se pergunta: mas o que isso tem a ver com a novela?

Assim na Terra Como no Céu (1970-1971)

Havia um ex-padre na história. Esta é a única ligação da trama com seu título, porque a novela é sobre o mistério de um assassinato. O diretor Régis Cardoso narrou em seu livro “No Princípio Era o Som”:

“Não sei se foi o Borjalo [executivo da Globo] ou alguém que, muitas horas depois de uma reunião sem resultados positivos, resolveu, já que a novela era católica ou falava de padres, pedir a todos que começassem a rezar porque talvez encontrassem alguma ideia. Quando o Padre Nosso estava quase no final da primeira parte, que diz o seguinte: assim na terra como no céu… Borjalo então grita: – É esse o título, gente!”.

Fogo Sobre Terra (1974)

Este título foi decidido de forma inusitada. O diretor Daniel Filho contou em seu livro “Antes que me Esqueçam” que ele e Boni combinaram de jogar o I-Ching e batizar a novela com os elementos que aparecessem nos hexagramas. O resultado mostrou “fogo” e “terra”.

Porém, a trama abordava o desaparecimento de uma cidadezinha que seria inundada pelas águas de uma hidrelétrica. Não era mais lógico batizá-la de Água Sobre Terra?

Pecado Rasgado (1978-1979)

O primeiro título pensado foi Ida e Volta, referência às viagens do protagonista Renato (Juca de Oliveira), na ponte-aérea, entre Rio e São Paulo.

Porém, optou-se por Pecado Rasgado, expressão tirada da música escolhida para a abertura, “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”, de Chico Buarque e Ruy Guerra, gravada por Ney Matogrosso em 1978. Só que nada tinha a ver com a trama da novela.

Os Gigantes (1979)

A novela se chamaria Fênix – a ave que renasce das cinzas, de acordo com a famosa lenda. Fênix era o nome de uma das fazendas que servia de ambientação para a história. Outro título pensado foi Paloma, o nome da protagonista (vivida por Dina Sfat) – que quer dizer “pomba” em espanhol. No final da história, Paloma morre durante o voo: comete suicídio, sobrevoando sua fazenda em um avião até a gasolina acabar.

Porém, optou-se por Os Gigantes. Mas não havia nada de gigante na novela – pelo contrário, foi uma das produções mais fracassadas da história da Globo, que deu muita dor de cabeça à emissora. As chamadas de estreia tentavam justificar o título da novela: “Dentro de nossa alma, o medo, o amor, o dever, o ódio… Gigantes acima de nossas forças”.

Jogo da Vida (1981-1982)

A trama principal era sobre um grupo de pessoas correndo atrás da estátua de um cupido que continha milhões de dólares. Na sinopse original, o dinheiro estaria escondido, em vez de em um cupido, em uma de quatro marquesas (cadeiras estofadas antigas). O primeiro título pensado para a novela foi As Quatro Marquesas. Só depois trocou-se as marquesas por cupidos de bronze e a novela ganhou novo nome, Jogo da Vida. Mas, o que isso tinha a ver com a trama?

O autor Silvio de Abreu disse ao livro “Teletema, a História da Música Popular através da Teledramaturgia Brasileira”: “…inventei os cupidos e ficou Os Quatro Cupidos, mas o Boni preferiu Jogo da Vida por causa da música [o tema de abertura ‘Vida Vida’] e assim ficou”.

Jogo de boliche foi o elemento de identificação da novela: justificava o título, a animação da abertura (em que uma bola de boliche perseguia os pinos), e as capas dos LPs com a trilha sonora. Também fez parte da ambientação: um dos cenários da trama era um bar com boliche.

Pão-Pão Beijo-Beijo (1983)

O primeiro nome pensado para a novela foi Sanduíche de Coração, o título da música-tema da abertura, gravada pelo conjunto Rádio Táxi. O Condomínio também foi cogitado. Porém, o título definitivo – Pão-Pão Beijo-Beijo, um jogo de palavras com a expressão “pão-pão queijo-queijo” – foi uma imposição de Boni, de acordo com depoimento do autor Walther Negrão ao livro “Biografia da Televisão Brasileira”: “Só porque uma amiga da mulher dele vendia sanduíche na praia e a abertura mostraria isso!”.

A abertura exibia ingredientes de sanduíche natural, um dos símbolos da geração saúde da década de 1980. O logotipo da novela era um sanduíche em formato de coração. Curioso que na trama de Pão-Pão Beijo-Beijo não havia nada relacionado a sanduíches naturais, mas havia cantinas, logo, culinária italiana.

Ti-ti-ti (1985-1986)

A Globo encomendou à dupla Michael Sullivan e Paulo Massadas (da banda The Fevers) o tema de abertura da nova novela das sete (eles já haviam feito para Elas por Elas e Guerra dos Sexos). Gravaram então a música Troca-Troca e este seria o título da novela.

Porém, optou-se por Ti-ti-ti, música que Rita Lee já havia gravado. A banda Metrô foi convocada para regravar “Ti-ti-ti”, que acabou sendo o tema de abertura e dando título à novela. Enquanto isso, “Troca-Troca” foi realocada na trilha para ser tema do casal Luti e Walquíria (Cássio Gabus Mendes e Malu Mader).

Mas, o que Ti-ti-ti tem a ver com a novela? Uma história que “vai dar o maior ti-ti-ti“, como diziam as chamadas de estreia? Antes fosse Troca-Troca, que pelo menos era uma referência à dupla arqui-inimiga Victor Valentim e Jacques Leclair, em que um tentava tomar o lugar do outro.

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Hipertensão (1986-1987)

Talvez o mais aleatório de todos os títulos de novelas da TV brasileira. O primeiro nome pensado foi Caríssima, em referência à protagonista, chamada Carina (Maria Zilda). Entretanto a Globo optou por Hipertensão, até como tentativa de sugestionar energia e dinamismo à novela, características das produções da faixa das sete da noite (seu horário de exibição). Para justificar o nome, chamadas de estreia apresentando os personagens anunciavam: “Eles que se cuidem, senão pode pintar uma hipertensão!”.

Ao final, Hipertensão revelou-se um título que nada teve a ver com a produção em si, nem com sua proposta, menos ainda com a trama. Nem o raio estilizado no logotipo (substituindo a letra N) foi capaz de descarregar alguma carga ou potência ao roteiro. Nem a mensagem capciosa no logotipo, no qual lê-se “tesão” no fragmento “tensão”, por causa da letra N em formato de raio.

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O Sexo dos Anjos (1989-1990)

Outro título dos mais infelizes. A trama de Ivani Ribeiro era baseada em uma antiga novela sua, da TV Excelsior, O Terceiro Pecado, título indicado pela autora para a Globo. Mas a direção artística da emissora inventou um nome mais “moderninho”, ou “engraçadinho”, que nada tinha a ver com a novela, a não ser com a presença de anjos entre os personagens centrais.

De acordo com o livro “Ivani Ribeiro, a Dama das Emoções”, este foi um trabalho que não agradou à autora: “Não correspondeu à sua expectativa. A começar pelo título”.

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Andando nas Nuvens (1999)

O título em nada remete à história do homem que acorda de um coma após décadas, com o mundo completamente transformado. Porém, para chegar a Andando nas Nuvens, foi um longo caminho.

Esta talvez seja a novela que mais títulos provisórios teve: foi chamada de Maluco Beleza, Louco Varrido, Feliz por um Triz, Volta por Cima e A Última Noite do Século. No fim, optou-se por um título genérico.

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