É HOJE! Vai valer muito a pena ver de novo a próxima atração da faixa de reprises da Globo. Celebridade, exibida entre outubro de 2003 e junho de 2004, está de volta a partir desta segunda-feira (4), por volta de 16h20 – segundo a grade de programação disponibilizada no site da emissora e em esquema de “dobradinha” com Senhora do Destino (2004) até sexta-feira (8). O TV História lista agora 10 motivos para você se ligar neste novelão!

“À felicidade de Maria Clara Diniz… Você vai ter tudo o que sempre mereceu!”. É assim que Laura Prudente da Costa (Cláudia Abreu), a fã confessa e a subserviente assistente, celebra os rumos da carreira e da vida de Maria Clara (Malu Mader), a badalada promoter; acompanhada, desde os derradeiros anos da década de 1980, do título “musa do verão”, atribuído por ter, supostamente, inspirado a canção homônima que fez a fama de seu noivo, assassinado no dia do casamento. Laura deseja usurpar a casa, o escritório, o status, o brilho da celebridade – movida por um desejo de vingança cultivado desde a mais “tenra” infância. Nessa empreitada, conta com o auxílio de Marcos (Márcio Garcia), o “michê”. E com o amparo dos bons e dos maus, todos iludidos pelo olhar de pobre coitada. Uma vilã com V maiúsculo para uma atriz com A maiúsculo. Sem sombra de dúvida, a melhor personagem de Cláudia Abreu!

Rainha da p**** toda, Maria Clara (Malu Mader) é a “garota Summer Spell”, que fez fama em cima da tragédia que se abateu sobre sua vida – o assassinato do noivo por Ubaldo (Gracindo Jr), que se diz verdadeiro compositor de ‘Musa do Verão’. Grande nome do mundo da música, estando à frente da produtora de shows Mello Diniz, Clara está prestes a se unir a Otávio (Thiago Lacerda), empresário machista que deseja vê-la longe dos holofotes. Mas o destino reserva uma surpresa: Fernando Amorim (Marcos Palmeira), o cineasta com quem – como pede toda grande história de amor – se encontra casualmente dia sim, dia também. Mocinha no mais amplo sentido deste posto – tendo, inclusive, direito a parto complicado na cabana – Maria Clara difere de outras heroínas de seu tipo pela postura afrontosa. Só Malu Mader mesmo para conferir dignidade ao dramalhão e o tom irônico exigido pelo texto de Gilberto Braga.

“Dos memes às redes sociais, muita coisa mudou. Mas a busca pela fama ainda é um clássico”. Fato! A máxima que encerra as chamadas de Celebridade traduzem com a exatidão os perfis das obcecadas pela fama Darlene Sampaio (Deborah Secco) e Jaqueline Joy (Juliana Paes). Naquela época, figuras ainda distantes da realidade de um país que descobria a febre dos realities e de uma nova categoria de celebridade, a sub. Hoje, pessoas comuns como as que vemos nas ruas falando para uma tela de celular, diante de uma plateia particular ávida por distribuir likes. “Se juntas já causa, imagine juntas”, Darlene e Jaque Joy atrapalham a vida do bombeiro Vladimir (Marcelo Faria), famoso sem intenção de sê-lo, por ter cumprindo seu ofício – salvando a vida de Maria Clara – e por cair na esparrela da namoradinha cujo nome começa com “D de dar”, responsável por colocá-lo nu na capa de uma revista masculina.

Se a ideia de curtir uma trama engraçadinha – que chega a cansar, sabemos – não apetece, há de se afeiçoar então aos personagens dramáticos, digamos assim. Começando por Cristiano Reis (Alexandre Borges), brilhante jornalista que afoga a inspiração em garrafas de cachaça, desde a morte da esposa; como drama pouco é bobagem, cabe ao filho pequeno, Zeca (Brunno Abrahão), fazer as vezes de pai, sempre amparado pela vizinha Noêmia (Júlia Lemmertz). A degradação de Cristiano interessa a Renato: irmão da falecida, o editor-chefe da revista Fama almeja conquistar a guarda de Bruno e, assim, gerir o patrimônio do pequeno. Também cabe destacar aqui os conflitos de Sandra (Juliana Knust), a sobrinha de Maria Clara, em dúvida entre o extrovertido Paulo César (Paulo Vilhena) e o introvertido Inácio (Bruno Gagliasso). O dilema cresce em torno da virgindade da mocinha…

Por falar no autor… Celebridade, como não poderia deixar de ser, conta com a famosa “panelinha”, comum a obras do autor e de Dennis Carvalho, seu habitual parceiro na direção artística. Além de Malu e Cláudia, temos Fábio Assunção, irrepreensível na pele do incômodo, de um sarcasmo quase letal, Renato Mendes. Deborah Evelyn, figura recorrente nas obras de seu ex-marido Dennis, dá o tom ideal à execrável Beatriz, tão descompensada quanto dissimulada. Também Hugo Carvana, como o self-made-man Lineu Vasconcellos, pai de Beatriz e principal patrocinador de Maria Clara Diniz. Além de Isabela Garcia, “Gilberto Braga desde criancinha”, com Água Viva (1980), num tipo pouco comum em sua carreira: Eliete, uma mulher do povo. Também Nívea Maria (Corina), Daniel Dantas (Ademar), Kadu Moliterno (Daniel), Nathalia Timberg (Yolanda), Roberto Pirillo (Ernesto), Otávio Muller (Queiróz)…

Celebridade reverencia a obra de seu criador. Estão ali personagens icônicos, pinçados de tramas como Dancin’ Days (1978) – a triunfante Júlia Mattos (Sônia Braga) faz urrar de inveja a irmã Yolanda Pratini (Joana Fomm), tal qual Maria Clara e Ana Paula (Ana Beatriz Nogueira). A reprise de Água Viva (1980) no VIVA provou que Janete (Lucélia Santos) era tão protagonista quanto os que carregavam esse peso; aqui, a fotógrafa é revista através de Sandra, que se opõe aos pais sanguessugas Ana Paula e Nelito (Taumaturgo Ferreira), que vivem do prestígio de Clara. Também de ‘Água’, a surra que Lígia (Betty Faria) deu em Selma (Tamara Taxman) no banheiro do Canecão, agora alocada no Espaço Fama, com Maria Clara tripudiando sobre Laura. Os amantes Laura e Marcos remetem a Maria de Fátima (Glória Pires) e César (Carlos Alberto Riccelli), de Vale Tudo (1988), de onde veio a inspiração para Beatriz – que detestava o Brasil: Odete Roitman (Beatriz Segall), cujo “quem matou” influenciou, certamente, a morte de Lineu Vasconcellos.

Se você é amante da sétima arte, também vai encontrar em Celebridade diversas referências ao cinema. A começar por A Malvada (All About Eve, de Joseph L. Mankiewicz, 1950), em que a falsa fã (Anne Baxter) conspira contra a estrela que diz admirar (Bette Davis), premiado com o Oscar de melhor filme. Assim como Gente como a Gente (Ordinary People, dirigido por Robert Redford, 1980), onde a mãe de família rejeita o filho problemático, acusado da morte do herdeiro “brilhante” – o que ocorre com Beatriz, violentamente contrária a Inácio (Bruno Gagliasso), após a morte de seu queridinho Fábio (Bruno Ferrari). Já a Noêmia de Júlia Lemmertz bebe na fonte de Lana Turner em A Caldeira do Diabo (Peyton Place, de Mark Robson, 1957), montando uma farsa para que o filho Paulo César, o PC, não descubra a real identidade de seu pai.

Lamentavelmente, a edição do Vale a Pena Ver de Novo deve rifar todos os “congelamentos” – aquele efeito, similar ao flash de uma foto, que encerrava os capítulos. Brilho mesmo só das inúmeras participações especiais; certamente, a novela com o maior número de cantores e famosos em “presença VIP”. Começa com Mick Hucknall, vocalista do grupo Simply Red, e vai até Alanis Morissette, Alejandro Sanz e Julio Iglesias. Do repertório nacional, Ana Carolina, Dudu Nobre, Gal Costa, João Bosco, Rita Lee, Titãs e Vanessa da Mata. E entre os de “fora da trilha” Elba Ramalho, Emílio Santiago, Erasmo Carlos, Fernanda Abreu, Marina Lima, Zélia Duncan e o rei Roberto Carlos. Ainda, os atores Cláudia Raia, Edson Celulari, Fernanda Montenegro, Norma Bengell, o autor Silvio de Abreu, os ex-jogadores de futebol Pelé e Zico e até os participantes da quarta edição do Big Brother Brasil (2004), Solange ‘Iarnuou’ e os finalistas Cida e Thiago.

De um tempo em que os “tops” não estavam ao alcance dos fãs, como acontece hoje com as redes sociais, Celebridade trata o sucesso de um jeito diferente. Maria Clara, fosse agora, certamente seria endeusada em tags no Twitter, como acontece todo e qualquer músico – ainda que não seja lá muito famoso – ou participantes de reality-show (até os mais controversos). O fandom não aceitaria facilmente o término da musa com Otávio, porque rolaria “aquele OTP que você respeita”. Desta mesma forma, os ataques (muitas vezes, movidos apenas por ódio) de arrobas, que usam a proximidade conferida pelas redes sociais e o anonimato de perfis fakes para minimizar e ofender. Também hoje, a informação se popularizou: qualquer um é paparazzi; qualquer celular fabrica notícia. Ah, Renato Mendes, se te pegam neste 2017 tomando aquele tapaço de Maria Clara…

Pela primeira vez na história do Vale a Pena Ver de Novo, a Globo exibe uma novela “não recomendada para menores de 12 anos”. O fim da vinculação horária à classificação indicativa permitiu a “ousadia” – antes uma novela “+12” só poderia ser exibida após às 20h. O texto de Celebridade, de fato, pede esta adequação mais “generosa”. Certas cenas, idem – de Otávio tirando a calcinha de Maria Clara a Darlene, Jaqueline e o próprio Otávio sem roupa. Resta acompanhar e saber se o resultado desta investida será mais eficiente que o da segunda reprise de Senhora do Destino, que, “+10”, deixou de fora os bons momentos de Nazaré Tedesco (Renata Sorrah), privilegiando as exaustivas sequências de núcleos insossos, como o da Unidos de Vila São Miguel.


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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.