Com mudanças implantadas nos últimos anos, em estética plana e minimalista, a Globo se afasta, cada vez mais, da imagem de “Vênus Platinada”, imortalizada por Hans Donner em vinhetas e aberturas de programas. Está definitivamente enterrada a era das imagens 3D em tons metalizados e fundo degradê.

Quando chegou à Globo em 1975, o designer alemão (criado na Áustria), que comemora 73 anos neste sábado (31), ficou responsável pela identidade visual da emissora. E causou uma verdadeira revolução na nossa TV, usando (ou não) computação gráfica e os mais modernos recursos de que dispunha.

Listo 10 das melhores aberturas de novelas do auge da “Era Hans Donner” – período que vai do início dos anos 1980 ao fim dos 1990.

Atenção: O critério para as escolhas obedece esse corte de tempo e é totalmente subjetivo, baseado no senso comum ou no gosto pessoal ou afetivo do colunista.

10 – Que Rei Sou Eu? (1989)

De maneira divertida, a abertura faz uma retrospectiva da história da humanidade, da pré-história ao futuro espacial, ponto em que retrocede até a época da Revolução Francesa, período retratado na trama da novela. A música-tema, “Rap do Rei”, foi composta por Boni, então vice-presidente de operações da Globo, e gravada pela banda Luni, cuja vocalista era Marisa Orth – ainda desconhecida do grande público, antes de estrear como atriz de televisão.

“É duro viver sem amor, sem poder, sem grana, sem glória, sem nome na história…”

9 – Roda de Fogo” (1986)

A contundente música “Pra Começar”, de Marina Lima e Antônio Cícero, dava o tom da abertura e da novela. A tal “roda de fogo” do título era uma alusão ao grupo que gerenciava as empresas do protagonista vivido por Tarcísio Meira, cujos membros ele queria eliminar um a um. Uma abertura forte, bem elaborada e cheia de simbolismo. Percebe que os animais de pedra se transformam em reais quando passam pela roda de fogo, enquanto o homem real se transforma em pedra depois que atravessa ela?

“Pra começar, quem vai colar os tais caquinhos do velho mundo?”

8 – Ti-Ti-Ti (1985)

Caso de novela que teve remake (em 2010) e, com ele, o remake da abertura. Aos olhos de hoje, a abertura da versão de 2010 de Ti-ti-ti é melhor produzida, pois usa recursos modernos de computação gráfica. Mas é exatamente o charme das agulhas, fitas métricas e tesouras mecânicas da abertura original que fazem o diferencial. Outro ponto positivo para a produção de 1985 é a música gravada pelo grupo Metrô, mais animadinha que a versão de Rita Lee em 2010. As agulhas, lápis e tesouras brigando representam os costureiros rivais Jacques Leclair e Victor Valentim (vividos na trama por Reginaldo Faria e Luiz Gustavo).

“Se pintar um negócio na esquina corre e vê se eu estou lá na China…”

7 – O Dono do Mundo (1991)

Cenas do filme O Grande Ditador (de 1940), de Chaplin, em que o personagem emulando Hitler se diverte com um globo que reflete imagens de belas mulheres, ao som da canção “Querida”, de Tom Jobim. Os direitos sobre as imagens do filme foram cedidos diretamente a Hans Donner. Na abertura, o personagem de Chaplin representava o protagonista Felipe Barreto, vivido por Antônio Fagundes, o tal “dono do mundo” do título.

“Longa é a tarde, longa é a vida. De tristes flores, longa a ferida. Longa é a dor do pecador, querida!”

6 – Por Amor (1997)

Regina Duarte revelou que chorou emocionada à primeira vez que viu a abertura da novela, que reunia fotos antigas dela com a filha, Gabriela, fundindo-se umas nas outras. Mãe e filha na vida real e na trama da novela, cuja história tratava de maternidade.

“Se eu pudesse, por um dia, esse amor, essa alegria, eu te juro, te daria, se pudesse, esse amor todo dia!”

5 – Tieta (1989)

Abertura que causou frisson na época de seu lançamento. Não só pelo nu de Isadora Ribeiro (impensável hoje em dia), mas pela beleza da produção e apuro técnico, resultando em uma interessante obra que mescla sensualidade feminina com elementos da natureza. O corpo de Isadora se retorce em um tronco de árvore, para, ao final, uma palmeira se transformar na modelo. Ao fundo, o anoitecer de Mangue Seco, cenário da trama.

“Tieta do Agreste, lua cheia de tesão. É lua, estrela, nuvem carregada de paixão…”

4 – Deus nos Acuda (1992)

A novela satirizava a corrupção política já em sua abertura, que reproduzia uma festa privê em que políticos de black-tie bebiam champanhe com belas mulheres, enquanto um mar de lama – feita com uma mistura de papel, anilina e álcool – invadia o cenário sem que as pessoas percebessem. A lama tragava todos e, do alto, se formava um redemoinho por onde escorriam lanchas, aviões, iates e dinheiro. Ao abrir a cena, via-se o mapa do Brasil sem fundo, como se estivesse escoando por um ralo. Icônica e atemporal.

“No céu, no mar, na terra… Canta Brasil!”

3 – Brilhante (1981)

Que computação gráfica que nada! Para criar uma de suas mais belas aberturas, Hans Donner usou apenas uma modelo e um gato siamês em uma sala de espelhos. Tom Jobim compôs especialmente a música “Luiza”. Só que o diretor Daniel Filho mandou cortar os cabelos de Vera Fischer (a Luiza da história) sem saber que o músico citava, na canção, a personagem com longos cabelos. A emissora mexicana Televisa plagiou descaradamente a abertura em sua novela “Vanessa”, que usou inclusive os mesmos ângulos e fonte dos créditos – só que de uma forma, digamos, cafona – bem cafona!

“Vem cá Luiza, me dá a tua mão. O teu desejo é sempre o meu desejo. Vem, me exorciza!”

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2 – Selva de Pedra (1986)

Para simular uma cidade (de vidro, não de pedra!) que brotava de um chão árido, foram montadas várias maquetes de edifícios. Rostos de atores do elenco apareciam refletidos nos prédios envidraçados (também o merchan do relógio Champion, na moda na época). Por fim, a cidade, do alto, formava o rosto petrificado de Tony Ramos (que vivia o protagonista da trama). Uma abertura de estética futurista em contraponto com a abertura rudimentar, quase agressiva, da versão original da novela, ainda em preto e branco, de 1972.

“Chananananá nananá nananá ná ná…”

1 – Elas por Elas (1982)

E dizer que essa abertura, produzida há quase 40 anos, é melhor do que muitas feitas hoje (guardadas as devidas proporções, claro). Empolgante, criativa e original, tinha tudo a ver com a trama da novela, sobre o reencontro de sete amigas após vinte anos. As atrizes protagonistas surgem saídas de fotos tiradas em uma festa dos anos 1960, em preto e branco – com a animada música dos Fevers como tema. A imagem ganha cor a partir de um efeito de flash fotográfico, que faz surgir a atriz correspondente, representando a passagem de tempo. Ao final, as atrizes saem da festa juntas.

“Hey hey! Bandeira pouca é bobagem! Hey hey! Você me faz a cabeçaaaaaaa!”

Ciente de ter deixado de fora as ótimas aberturas de Locomotivas (1977), Dancin’ Days (1978), Jogo da Vida (1981), Final Feliz (1982), Champagne (1983), Vereda Tropical (1984), Roque Santeiro (1985), Rainha da Sucata (1990), Salomé (1991), Vamp (1991), Pedra Sobre Pedra (1992) e tantas outras.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor