Nilson Xavier

Considerada um clássico de nossa televisão, a novela Selva de Pedra, de Janete Clair, completou 50 anos de estreia em abril do ano passado.

Selva de Pedra

Ficou famosa por ter atingido números de audiência aparentemente impossíveis. Hoje em dia, então, inimagináveis! Como seria a repercussão de Selva de Pedra na atualidade, com streaming, audiência segmentada e pulverizada e com mais opções de entretenimento do que havia no início dos anos 1970?

Seguem 10 curiosidades sobre a novela:

100% de audiência

Durante a exibição do capítulo 152, em 4 de outubro de 1972 – a noite em que a personagem Simone (Regina Duarte) era desmascarada -, o índice de aparelhos sintonizados na novela em São Paulo e no Rio de Janeiro chegou aos 100%.

Não houve um único entrevistado do Ibope que revelasse estar assistindo a outro canal.

Novelas em série

Selva de Pedra foi a última de uma série de oito novelas consecutivas que Janete Clair roteirizou para a Globo, tamanha era sua capacidade inventiva e dedicação ao trabalho. Sim, uma após a outra, da mesma autora!

Se hoje em dia, um novelista leva três, cinco anos para retornar, naquela época era prática trabalhar sem parar.

Entre novembro de 1967 e janeiro de 1973, Janete escreveu, ininterruptamente: Anastácia, a Mulher Sem DestinoSangue AreiaPasso dos VentosRosa RebeldeVéu de Noiva, Irmãos Coragem (mais de 1 ano no ar, uma das mais longas novelas da emissora), O Homem que Deve Morrer e Selva de Pedra.

Tragédia americana

O ponto de partida da trama foi a notícia de que um tocador de bumbo, em uma praça do interior de Pernambuco, foi ridicularizado por outro rapaz e o matou.

Entretanto, a história central era inspirada no romance “Uma Tragédia Americana”, de Theodore Dreiser (publicado em 1925), que já havia rendido duas versões cinematográficas em Hollywood: o filme, com o mesmo título do romance original, de Joseph Von Sternberg (em 1931), com Sylvia Sidney, Philips Holmes e Frances Dee; e o filme Um Lugar ao Sol, de George Stevens (em 1951), com Elizabeth Taylor, Montgomery Clift e Shelley Winters.

 Propaganda subliminar do governo?

O pesquisador Ismael Fernandes cita em seu livro “Memória da Telenovela Brasileira”:

“O país vivia a fase do Milagre Brasileiro e com prazer se reunia à frente da televisão para assistir a vitória do bem sobre o mal, como mostrou o último capítulo. Acontecia um milagre na vida de Cristiano e Simone. Eles voltavam a se entender como nos duros tempos, mas não eram mais os mesmos. Agora eles se amavam envolvidos pelo dinheiro ao sabor do sucesso pessoal. Era o milagre brasileiro mesmo!”.

Ismael estava sendo irônico. Porém, em época de ditadura militar, o brasileiro esquecia dos problemas embalado no sonho da prosperidade econômica prometida pelo governo.

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A Censura, sempre ela!

Em agosto de 1972, a Censura Federal impediu o casamento de Cristiano (Francisco Cuoco) e Fernanda (Dina Sfat).

Ainda que Cristiano acreditasse estar viúvo de Simone (Regina Duarte), considerada morta em um desastre de carro (no que, inclusive, os demais personagens acreditavam), os obtusos censores consideraram a situação atentatória aos bons costumes da família brasileira, alegando que a personagem continuava viva e que, se Cristiano se casasse novamente, estaria incorrendo no crime de bigamia.

Vinte e dois capítulos foram inutilizados e dezenas de sequências foram regravadas, a começar pela cena em que Fernanda espera o noivo na igreja. Anos depois, Janete Clair inventou uma pequena “vingança” para Dina Sfat: na novela O Astro (de 1978, em que Dina voltou a fazer par romântico com Francisco Cuoco), foi Amanda (Dina) quem faltou ao casamento com Herculano (Cuoco).

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O acidente com o fusca

Em 1972, a cidade serrana de Petrópolis, no Rio de Janeiro, atraía diariamente dezenas de visitantes a dois pontos turísticos: a Rua Flávio Cavalcanti, onde se situava a mansão do popular apresentador de TV; e a estrada Rio-Petrópolis, no trecho próximo ao restaurante Belvedere, onde havia sido gravada a célebre sequência do acidente com o fusca de Simone.

Foi a primeira vez na televisão brasileira que se gravou esse tipo de cena, com explosão de um carro. A sequência, gravada em preto-e-branco, impressiona até hoje. Eu tinha 6 anos quando vi (na reprise de 1975) e fiquei para sempre com essas imagens gravadas em minha memória.

Glória Pires menina

A então garotinha Glória Pires (com 9 anos na época) fez sua estreia como atriz em novelas. Sua personagem, Fátima, morava na Pensão Palácio, onde o casal Simone e Cristiano foram viver quando chegaram ao Rio.

A atriz-mirim era creditada como Glória Maria na abertura. Também a estreia na Globo de Kadu Moliterno (ele assinava Carlos Eduardo, apenas).

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Novela premiada

Por seus trabalhos na novela, Walter Avancini e Dina Sfat foram eleitos pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) o melhor diretor de novelas e a melhor atriz do ano de 1972.

Selva de Pedra” também foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor novela do ano, e Francisco Cuoco e Regina Duarte levaram o prêmio de melhor ator e melhor atriz.

Reprise tapa-buraco

Selva de Pedra foi reprisada três anos depois de sua apresentação original, em um dos raros casos em que a Globo reprisou uma novela no horário nobre como tapa-buraco: entre 27/08 e 22/11/1975, em forma compacta (76 capítulos contra os 243 da exibição original).

O motivo: substituindo a primeira versão de Roque Santeiro, que foi impedida de ir ao ar, censurada pelo Regime Militar.

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Remake

Foi produzido em 1986. Manteve a boa audiência no horário, mas longe de repetir a repercussão e o êxito da primeira versão.

No elenco, Fernanda Torres, Tony Ramos, Christiane Torloni e Miguel Falabella nos papéis que foram de Regina Duarte (Simone), Francisco Cuoco (Cristiano), Dina Sfat (Fernanda) e Carlos Vereza (Miro) em 1972.

AQUI tem tudo sobre Selva de Pedra: elenco completo, a trama, personagens, trilha sonora e muitas outras curiosidades.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor