Há 29 anos, a Globo exibia o último capítulo de Vale Tudo, uma das novelas de maior sucesso da história da televisão e, lamentavelmente, um dos enredos mais atuais de todos os tempos – o Brasil do “jeitinho” e da corrupção continua o mesmo. Ideia de Gilberto Braga, desenvolvida por ele em parceria com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, Vale Tudo partia do conflito entre a mãe honesta, Raquel Accioli (Regina Duarte), e a filha arrivista, Maria de Fátima (Glória Pires). Logo no primeiro capítulo, Fátima demonstra seu caráter oportunista numa conversa com o avô, Salvador (Sebastião Vasconcellos). A moça buscava convencer o funcionário da Receita Federal a deixar passar o contrabando – “meia dúzia de videocassetes” – de seu “amigo César (Carlos Alberto Riccelli).

Após a morte do avô, Fátima vende a casa da família e corre para o Rio de Janeiro, deixando Raquel, a própria mãe, na rua. Decidida a entender o que se passa na cabeça da filha, a guia de turismo também embarca rumo à Cidade Maravilhosa. Ao sair da rodoviária, acaba assaltada. O desempregado Ivan (Antonio Fagundes) a auxilia a recuperar seus pertences; ainda se dispõe a acompanhá-la até o apartamento de César, onde Maria de Fátima está hospedada. O reencontro é tenso: as mentiras da falsiane caem por terra; logo, o top model contrabandista a deixa para trás. Sem saída, a aspirante a modelo fotográfico decide procurar Solange Duprat (Lídia Brondi). A produtora de moda da revista Tomorrow, compadecida, resolve hospedá-la. E é num passeio de Fátima e Solange na praia que Raquel cruza o caminho da filha, mais uma vez…

A proximidade com Solange termina por levar Fátima ao convívio de Afonso Roitman (Cássio Gabus Mendes), promissor empresário do ramo da aviação. Apaixonado pelo Brasil, Afonso se instalou na casa de sua tia Celina (Nathalia Timberg), já que sua mãe, Odete Roitman (Beatriz Segall), prefere o exterior. Temida por todos de seu convívio – principalmente pela filha alcoólatra Heleninha (Renata Sorrah) – Odete surpreende personagens e público ao anunciar sua volta ao país onde nasceu, se hospedando na “suíte presidencial de um desses hotéis limpinhos, de preferência que não tenha um bando de mendigos na porta“. As opiniões sempre ferinas sobre o Brasil fizerem de Odete uma vilã odiosa. E autêntica – muito brasileiro, infelizmente, pensa como ela.

Honestíssima e “sincerona”, Solange logo se indispõe com a futura sogra. As “ameaças veladas” entre as duas ganha ares de “guerra declarada” quando Odete tenta convencer a moça a ir para Paris – casada com Afonso, induzindo este a assumir os negócios da família por lá. Com “não deu pra entender ainda que eu não sou mulher de conchavo?“, Solange despachou a víbora de vez. E ainda arrematou com uma referência ao olho roxo da matriarca dos Roitman, agredida por um gigolô.

Evidentemente, Fátima aproveitou a lacuna aberta pela “amiga” para se aproximar de Afonso e de Odete. Com o auxílio de César, armou um flagrante que colocou Solange em condição vulnerável. Para conseguir levar o “pato” para o altar, a vilãzinha se aliou com a vilãzona, prejudicando Raquel, mais uma vez: a ascensão de Ivan dentro da TCA – Transcapital Aero Linhas, empresa dos Roitman -, fez Odete ver ali um marido em potencial para sua filha problemática, Heleninha. Separada do homem que amava pelo plano maquiavélico de Fátima e por uma questão ideológica – ela se negou a fazer uso de dinheiro de corrupção, extraviado para sua casa numa mala do falecido marido, Rubinho (Daniel Filho) -, Raquel resolveu desmascará-la diante de Odete… Cenão!

Após a cerimônia, foi a vez de Solange partir, sem dó, para cima de Fátima, com a célebre máxima “a gente pode enganar todo mundo por quase todo o tempo; quase todo mundo por todo o tempo, mas não pode enganar todo mundo por todo o tempo!“!

Tempos depois, Ivan e Raquel cedem à paixão. Odete Roitman, temendo uma recaída de Heleninha, trata de afastar a “inimiga” de perto do genro. Como a cozinheira – agora uma empreendedora – não cede, Odete decide melar os negócios da Paladar, empresa de Raquel; consequentemente, o de sua irmã, Celina, sócia da protagonista. A maldita manda envenenar a maionese fornecida pela culinarista a diversas empresas e restaurantes. Sobrou para Celina bradar “não comam essa maionese!“, impedindo uma tragédia!

Eis que Fátima ganhou em desgraça, ao engravidar de César. Ela bem tentou se livrar do bebê, se atirando da escadaria do Teatro Municipal – ao ser induzida por Celina a acreditar que Afonso era estéril. Este, por sua vez, surpreendeu a vadia na cama com o amante. O bebê nasceu e a mãe, agindo de forma tão monstruosa quanto como agiu com a mãe, o vende para um casal de estrangeiros. Raquel recupera o neto, enquanto Fátima aposta suas fichas no caso extraconjugal de Odete com César. A traição do garoto de programa abala a até então inatingível empresária. Azar de Heleninha, que se entrega à bebida de novo, na tentativa de esquecer todos as atitudes criminosas da genitora.

O fim de Odete todo mundo conhece: pensando estar atirando em Fátima, então amante de seu marido, Marco Aurélio (Reginaldo Faria), Leila envia a vilã para o inferno, sem escalas!

No fim, o bem triunfa, com Raquel e Ivan reconciliados. E o mal também. Raquel e César passam a dividir os aposentos com um conde italiano; casado com ela, amante dele. Já Marco Aurélio e Leila, impunes, fogem do país…


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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.