Um Lugar ao Sol não passa de um tapa-buraco para a Globo
21/11/2021 às 7h00
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Até aqui, acompanhei todos os capítulos de Um Lugar ao Sol. Porém, tenho encontrado dificuldade. Para cada dia, precisei verificar na internet o horário de exibição da novela. Acho que é a primeira vez que isso acontece. Os jogos de futebol tem bagunçado a grade noturna da Globo. Assim não há audiência que se sustente! Novela é hábito: segurar o público com uma história envolvente a cada dia, no mesmo bat-horário, no mesmo bat-canal.
E a audiência? Está baixa: média de 22, 23 pontos no Ibope da Grande SP. Foram as menores primeira e segunda semanas entre as novelas das 8/9 da Globo. Vários fatores devem ser considerados. Não há dúvida de que o horário incerto é um deles. Também os momentos decisivos de Gênesis na Record – quando aconteceu de concorrer diretamente com Um Lugar ao Sol, claro!
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Mas não creio que a concorrência seja determinante na baixa adesão à novela da Globo na TV aberta.
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Por outro lado, Um Lugar ao Sol está sempre entre os programas mais vistos do Globoplay. E, nas redes sociais, a repercussão é imensa, com elogios rasgados à produção.
O fim de ano de 2021 chega com o relaxamento das restrições à pandemia, dando uma falsa impressão de “fim de covid” e volta à normalidade, o que faz as pessoas quererem recuperar o tempo perdido com as limitações impostas desde abril de 2020. Está todo mundo com sede de sair, encontrar pessoas, viajar, se divertir.
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Novela nova precisa “pegar” para gerar fidelização. Fica difícil quando a atração anterior não era um grande sucesso (reprise de Império). Mais ainda se é exibida a cada dia em um horário diferente.
Há negligência da emissora com a produção? Pode até ser. Mas a Globo calcula todos os riscos e sabe que está estreando uma produção no fim de ano, em um momento em que as pessoas não aguentam mais ficar em casa assistindo TV – porque estão há mais de um ano e meio fazendo isso.
Na realidade, Um Lugar ao Sol cumpre o papel de tapa-buraco, para que o próximo lançamento, Pantanal – a grande promessa da emissora para 2022 -, estreie com folga e sossego.
Tanto que a novela de Lícia Manzo vai cobrir justamente o período mais difícil para a TV em qualquer tempo e época: festas de fim ano, verão e carnaval.
Enquanto isso, sigo curtindo muito este tapa-buraco.
Destaques da semana
– Até aqui, a novela tem se mostrado bastante dinâmica, com muitos acontecimentos e desdobramentos, em um ritmo até acelerado. Ou seja, se você perdeu um capítulo, perdeu muito. E os ganchos, cada um melhor que o outro!
– Em todo capítulo, há um diálogo bonito, confortante, reflexivo. Deixo como exemplo a conversa entre Lara e Noca em uma viagem de ônibus:
Lara: “Acho que é na estrada que me sinto melhor. Eu sei que tem gente que até mora aqui, mas a estrada pra mim não chega a ser um endereço, um lugar. Ela é mais um caminho. A estrada é uma coisa que a gente atravessa quando ainda não chegou em canto nenhum.”
Noca: “Eu sei que você está em uma travessia aí dentro de você. Mas daqui a pouco você vai chegar no seu destino. Pensa no quanto você já caminhou!”
– Bonitas as cenas em que Dalva (Ju Colombo) relata a Noca (Marieta Severo) o incômodo pela neta sentir-se constrangida com sua presença na sala de aula, como aluna. Noca conversa afetuosamente com a menina e ela escreve uma redação para a avó. São situações que até soam irreais (poderia haver um desenvolvimento maior), mas que não são exatamente uma trama a ser desdobrada na novela (a neta com a avó).
Trata-se de um adendo que serve como alívio às tramas mais pesadas ou de carga mais dramática. Como se fosse um alívio cômico, mas que não é cômico. É um recheio que dá um “quentinho no coração“. Aliás, uma característica do texto de Lícia Manzo.
– Muito boa a cena em que Elenice (Ana Beatriz Nogueira) conhece Alípio (Ísio Ghelman) no avião. Parece que temos pela frente um bom envolvimento entre dois trambiqueiros. Será? Acho que pode render.
– Alinne Moraes é um dos maiores destaques do elenco, excelente como a mulher em relação tóxica que sofre da dependência afetiva de um homem. Renato, muito canalha, aproveita-se conscientemente da condição dela. O Renato anterior (o verdadeiro) era inconsequente e imaturo – ela reagia de uma maneira. O atual percebe e fomenta essa situação – ela sente que o amado “mudou” e suas reações a esse novo perfil são outras, mas não menos problemáticas.
– Também gosto muito de Andrea Beltrão. Há uma leveza em sua personagem, apesar do drama que Rebeca vive, também em uma relação desgastada com o marido e todas as questões com a idade. A cena com a mãe na casa de repouso (participação luxuosa de Débora Duarte) foi muito bonita.
– Sei que muitos torcem o nariz para o envolvimento de Ravi e Joy. Mas a garota representa o caos na vida do rapaz centrado, o que gera ótimas possibilidades, como a gravidez dela concomitante à gravidez de Bárbara. Por mais caótica que Joy seja, ela e seu filho representam o porto seguro onde Ravi vai se ancorar com toda garra, a família que ele nunca teve.
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– A novela mais de uma vez exibiu sequências que confrontam tramas e personagens de classes sociais opostas, demarcando bem as duas realidades. Nesta semana, foram os partos de Bárbara e Joy, que aconteceram ao mesmo tempo e as cenas foram mostradas alternadamente. Muito engenhoso o entrecho que fez com que Renato não estivesse presente no parto de seu filho, mas presente no parto do filho de Ravi, enquanto este levava Bárbara para o hospital.
Por um momento pensei 1) que as crianças seriam trocadas (!) 2) que Santiago fosse pedir o filho de Ravi para colocar no lugar do bebê natimorto de Bárbara. Bem, seria outra história, outra novela – aliás, já vista, várias vezes.