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A novela A Viagem concorre pelo título de “A Usurpadora da Globo“, no que se refere à quantidade de reprises. A trama espiritualista de Ivani Ribeiro volta (de novo) nesta segunda-feira (21) no canal Viva. Pela segunda vez, pois já havia sido exibida entre 14/07/2014 e 24/01/2015. Também foi reprisada duas vezes no Vale a Pena Ver de Novo: entre 28/04 e 12/09/1997, e entre 13/02 e 21/07/2006. Além, logicamente, da exibição original, entre 11/04 e 22/10/1994.
Abaixo, 10 curiosidades que justificam o sucesso garantido a cada reprise e o forte apelo que tem junto ao público.
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1 – Ah os anos 90!
A Viagem é muito representativa de um tempo, hoje longínquo, que ficou na memória afetiva do público. O mundo em 1994 era bem diferente do que o conhecemos hoje, 26 anos depois.
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A novela nos transporta à moda dos meados dos anos 90: Diná e seu modelitos (vestidos, túnicas e pantalonas) retos, longos e esvoaçantes, e colares de cordões e pedras gigantes; Lisa de moda grunge, meias três-quartos, saias colegiais curtas, xadrez, coturnos e gargantilhas; Téo e Raul de camisetas gola canoa, listradas; Zeca de cavanhaque e costeletas (como ditava o visual grunge); e Alexandre de jaqueta de couro preta com detalhes em metal.
Isso sem falar nos elementos de cena, como os primeiros PCs (computadores pessoais), os celulares tijolões, os disc-men (para ouvir CDs), o Kadett GSI conversível vinho de Diná (um sonho de consumo da época) e as videolocadoras (Diná e Andreza eram sócias em uma, onde trabalhava Carmem).
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2 – Alexandre virou meme
Mais de vinte anos depois, Alexandre, papel que marcou a carreira do ator Guilherme Fontes, virou meme na internet, quem diria! Proliferam nas redes sociais imagens humorísticas com fotos do “diabo loiro” em frases engraçadinhas. Até hoje o ator é abordado por conta do personagem.
3 – Remake e nomes trocados
A Viagem alcançou ótima repercussão na Globo, com excelentes números de audiência, tornando-se um dos maiores sucessos da TV na década de 1990. Lançada em 1994, é um remake da novela que Ivani Ribeiro escreveu para a TV Tupi entre 1975 e 1976, com Eva Wilma (Diná), Altair Lima (César Jordão), Ewerton de Castro (Alexandre), Tony Ramos (Téo) e Elaine Cristina (Lisa) nos papeis principais.
Como na novela anterior da Globo no horário das sete, Olho no Olho, já havia um personagem de destaque chamado César (Zapata, de Reginaldo Faria), Ivani, para o remake, mudou o nome de seu protagonista César Jordão para Otávio César Jordão (ou apenas Otávio Jordão), vivido por Antônio Fagundes.
Outros personagens também tiveram seus nomes alterados: Maria Lúcia (Suzy Camacho), a filha de Estela na Tupi, chamou-se Bia na Globo (Fernanda Rodrigues); Dona Isaura (Carmem Silva), mãe de Diná, passou a ser Dona Maroca (Yara Côrtes); Dona Josefina (Yolanda Cardoso), mãe de Téo, teve seu nome reduzido para Josefa (Tânia Scher); e a Dona Cidinha (Lúcia Lambertini), proprietária da pensão, passou a ser Dona Cininha no remake (Nair Bello).
4 – Última de Ivani Ribeiro
Foi a última novela de Ivani Ribeiro, que faleceu no ano seguinte ao de sua exibição, em 17/07/1995, aos 74 anos, vítima de insuficiência renal. Antes de morrer, a novelista deixou encaminhada uma sinopse, intitulada Caminho dos Ventos, posteriormente produzida, em 1996, escrita por Solange Castro Neves, colaboradora em seus últimos trabalhos, com um novo título: Quem é Você.
Ivani Ribeiro já estava muito doente quando A Viagem foi ao ar, com dificuldades para enxergar por complicações com diabetes. Sua colaboradora lia os originais e as duas discutiam as adaptações e rumos da trama. Seguindo as orientações da autora, Solange redigia os capítulos. Depois, lia em voz alta para Ivani, que sugeria alterações.
5 – As relações fraternas
Além de ser uma novela extremamente romântica, A Viagem enaltecia as relações familiares e de amizade. Quem não se identificou com a família Toledo: Dona Marocas, mãe de Diná, Estela, Raul e Alexandre, os netos Bia e Paty, e seus cofamiliares.
Até hoje o público lembra com carinho da relação fraternal entre as irmãs Diná e Estela (Christiane Torloni e Lucinha Lins), em que uma sentia quando a outra estava próxima, e até mesmo as sensações da outra; e a amizade #bff (best friends forever) de Lisa e Carmem (Andrea Beltrão e Suzy Rêgo).
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6 – Kardecismo
A Viagem abordou a vida após a morte baseando-se no Espiritismo, a filosofia de Allan Kardec (1804-1869). A autora usou de sua história e personagens para apresentar detalhes da doutrina kardecista. Foram levantadas e discutidas várias dimensões da crença, desde o preconceito dos leigos até estudos científicos. Também a comunicação entre vivos e mortos por meio da mediunidade, espíritos encarnados e desencarnados, possessões, crendices populares, etc.
Para escrever sua trama, Ivani baseou-se nos livros “E a Vida Continua” e “Nosso Lar”, ditados pelo espírito de André Luiz a Chico Xavier (1910-2002). Também teve a colaboração do professor Herculano Pires (1914-1979), um dos maiores escritores e estudiosos da doutrina kardecista.
A princípio, a autora pensou em adaptar um livro de Chico Xavier. Porém, foi o próprio Chico que sugeriu a Ivani que ela mesma desenvolvesse uma trama que abordasse o tema. A exibição de A Viagem aumentou em 50% a venda de livros sobre Espiritismo, segundo dados levantados na época por livrarias especializadas.
7 – O Mascarado
Ficou para a posteridade a misteriosa figura do Mascarado, um homem sempre fantasiado de pierrô que escondia o rosto e o passado atrás de máscaras e encantava a todos com suas performances circenses e mímicas. Na trama, Mascarado evitava se revelar para Carmem (Suzy Rêgo), um antigo amor que não o reconhecia e não sabia que ele havia sofrido um acidente que o deixou com queimaduras pelo corpo. O ator era Breno Moroni, cujo rosto, quando não estava com máscara, apareceu sob uma pesada camada de látex que caracterizava a face desfigurada do personagem.
A ideia de se comunicar por mímicas nasceu de um problema técnico: quando o ator falava de dentro da máscara, o som saía ruim. Optou-se então por abandonar a fala. As manobras circenses (como andar em arame ou subir em telhados) eram executadas pelo próprio Breno Moroni, que dispensava dublês por ter experiência em picadeiro e formação profissional como dublê. Moroni ficou conhecido na TV nos anos 1980, quando aparecia com a modelo Maria Eugênia na abertura da novela Champagne (1983-1984).
8 – O céu é um campo de golfe!
Para fugir das imagens estereotipadas de representação do céu, a produção da novela escolheu um campo de golfe em Nogueira, distrito de Petrópolis (RJ), para ambientar o Nosso Lar. Já o Vale dos Suicidas, para onde Alexandre vai, era uma pedreira desativada em Niterói (RJ).
Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia” (do Projeto Memória Globo), Miguel Falabella (do elenco da novela) brincou que os atores não desejavam que seus personagens morressem, para não precisar gravar no Céu (que era longe), e que prefeririam que fossem para o Inferno (mais perto, em Niterói).
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9 – A trilha sonora
Quando se ouve alguma dessas músicas, é quase impossível não lembrar de A Viagem:
“A Viagem” (Roupa Nova), tema da abertura;
“Esqueça” (Fábio Jr.), tema de Estela;
“Mais uma de Amor” (Blitz), tema de Bia;
“Febre” (Lulu Santos), tema de Tato;
“Caminhos de Sol” (Yahoo), tema de Lisa;
“Poeira de Estrelas” (Fafá de Belém), tema de Otávio;
“Beijo Partido” (Milton Nascimento), tema de Raul e Andreza;
“Quando Chove” (Patricia Marx), tema de Diná;
“Cada Um no Seu Cada Um” (Zeca Pagodinho), tema de Dona Cininha;
“I´m Your Puppet” (Elton John & Paul Young), tema de Téo e Lisa;
“Linger“, (The Cranberries), tema de Raul e Andreza;
“I´ll Stand By You” (Pretenders), tema de Estela;
“Twist and Shout” (Chaka Demus & Pliers with Jack Radics & Taxi Gang);
“Another Sad Love Song” (Toni Braxton);
“Crazy” (Julio Iglesias), tema de Otávio;
“Why Worry” (Art Garfunkel), tema de Carmem;
“I Miss You” (Haddaway), tema de Diná;
“Desperate Lovers” (Marta Sanchez e Paulo Ricardo).
10 – Estreantes
Foi o primeiro trabalho na televisão dos atores Lúcio Mauro Filho, Kiko Mascarenhas, Thierry Figueira e Myrian Freeland (os dois últimos, ainda adolescentes).
SOBRE O AUTOR
Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira.
SOBRE A COLUNA
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.