A Globo vai falir? Entenda por que é quase impossível que isso aconteça

Comentários sobre qual seria a real situação financeira da TV Globo na atualidade são frequentes nas plataformas de mídias sociais, especialmente por motivos políticos.

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Os detratores da emissora se baseiam, muitas vezes, nos anúncios de mudanças estruturais feitos nos últimos anos, que incluíram não renovações de contratos e cortes de despesas.

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Essas mudanças nada mais são do que movimentos naturais do mercado e que chegaram com certo atraso a uma das maiores emissoras do mundo.

A torcida por um “fim” da Globo foi impulsionada, por exemplo, pela divulgação de um prejuízo de R$ 114 milhões no balanço referente ao primeiro semestre de 2021. No entanto, apenas esse indicador não reflete a realidade da empresa, que é bastante complexa em razão do seu porte.

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Para se ter uma ideia, em termos de compromissos a honrar nos próximos anos, a Globo teve registrada no balanço de 2020 uma dívida total (atrelada à emissão de bônus) de R$ 5,4 bilhões, valor que era de R$ 3,7 bilhões um ano antes. O aumento ocorreu devido à valorização do dólar frente ao real. Os vencimentos das dívidas estão distribuídos por três anos distintos: 2025, 2027 e 2030.

A situação, no entanto, está sob controle, especialmente pelo fato de que a empresa fechou o último balanço com R$ 13,6 bilhões em caixa, mais do que o dobro do total de suas dívidas.

Crescimento em 2021

Mesmo com a queda nos lucros observada entre 2019 e 2020 (de R$ 752,5 milhões para R$ 167,8 milhões), algo compreensível em um cenário de pandemia, a expectativa com o controle da Covid-19 por meio da vacinação e a retomada dos trabalhos de gravação é de que os resultados de 2021 serão consideravelmente melhores.

Prova disso são os resultados do terceiro trimestre, o melhor dos últimos quatro anos, no qual a emissora obteve uma receita líquida de R$ 3,7 bilhões (aumento de 19% no comparativo com 2020).

No ano passado, a Globo teve queda no faturamento com publicidade (17% em 2020), muito em função da excepcionalidade imposta pela pandemia, mas trata-se de uma situação enfrentada nos últimos anos por todos os meios de comunicação tradicionais, já que a maior parte dos investimentos está sendo redirecionada para o meio digital (leia-se “Google”).

As profundas mudanças nos hábitos de consumo dos conteúdos de mídia também devem ser consideradas. Em um cenário muito distinto daqueles de outros tempos, a Globo hoje segue outra estratégia, deixando de fazer altíssimos investimentos para ter exclusividade sobre artistas ou direitos de transmissão de eventos esportivos.

Além disso, direciona cada vez mais esforços para a sua plataforma de streaming (Globoplay), a fim de concorrer com os demais players do mercado de mídia atual, com destaque para a Netflix.

Concessão

E a concessão pública do canal (que estaria prestes a vencer)? Pode ser suspensa por decisão unilateral do presidente da República?

Aos fatos: a concessão da Globo vencerá em 5 de outubro de 2022, de acordo com o que está previsto em um decreto presidencial de 2008.

Para que a concessão fosse cassada antes desse prazo, seria necessário, de acordo com a Constituição, que o Poder Executivo entrasse com uma ação na Justiça Federal contra a emissora, com base em alguma falha jurídica ou irregularidade grave que, eventualmente, a Globo tenha cometido.

Porém, sobre qualquer decisão caberiam recursos até que o mérito fosse julgado na última instância (Supremo Tribunal Federal). Cabe ressaltar ainda que a legislação resguarda as liberdades jornalísticas e de expressão das detentoras de concessões de rádio e televisão.

Também segundo a Constituição, mesmo que o presidente eventualmente decida não renovar um contrato de concessão, seria também necessária a aprovação de, no mínimo, dois quintos do Congresso Nacional para que uma emissora perdesse a autorização pública de funcionamento.

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