Final frustrante: grande erro de O Salvador da Pátria foi se levar a sério

O canal Viva finalizou a exibição de O Salvador da Pátria nesta sexta (12). A trama de Lauro César Muniz começou como um fenômeno de audiência em 1989, mas acabou se perdendo por diversos motivos, incluindo interferências por motivos políticos.

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Reportagem do Jornal do Brasil de 26 de julho de 1989 constatou que a direção da Globo não gostou do final da novela, mesmo tendo aprovado o último capítulo. A publicação chamou a produção de “uma das novelas mais chatas dos últimos tempos”.

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Terminaram juntos Clotilde (Maitê Proença) e Sassá Mutema (Lima Duarte); Marina (Betty Faria) e João Mattos (José Wilker), Alice (Suzy Rêgo) e Paulo (Marcos Paulo, que retornou somente no final da trama); Camila (Mayara Magri) e Cássio (Thales Pan Chacon); Gilda (Susana Vieira) e Severo (Francisco Cuoco), com o político já de olho na nova empregada da mansão; e Silvia (Alessandra Marzo) e Sérgio (Maurício Mattar).

Além disso, Juca Pirama (Luis Gustavo) estava mesmo morto, tendo sido assassinado junto com Marlene (Tássia Camargo) por Jaime (Walter Santos), enquanto Bárbara (Lúcia Veríssimo) era a grande chefe da organização, sendo a responsável por comandar todo o esquema criminoso.

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Na Folha de S.Paulo de 13 de agosto de 1989, Ângela Marsiaj fez uma análise precisa do final da história.

“O presidente francês De Gaulle disse que o Brasil não era um pais sério. Em certos contextos, antes assim. O Salvador da Pátria foi uma das novelas mais chatas dos últimos tempos por se levar a sério demais. Poderia ter tido a graça rural de um Roque Santeiro ou o sabor das sacanagens urbanas de Vale Tudo. As duas novelas trafegaram tranquilas pela falta de seriedade do país, brincando com ela. Não foi o caso de O Salvador da Pátria”, indicou a crítica.

“É só tomar o exemplo do último capítulo. Se houve intenção de piada, não ficou claro. Toda a primeira metade foi gasta com uma sucessão de exclamações. Sassá se dirigia a cada um que entrava na sala (e entrou quase todo mundo que conta na novela) com a frase: então você é o chefe da organização”, continuou.

“A organização que perturbou a novela inteira desbaratada, o assassinato de Juca Pijama confirmado, Sassá tornado herói, como sempre, quase nada restou para o final do capítulo, a não ser a chatice habitual das despedidas. A novela mal devolveu ao público a imagem errada que ele próprio tem dos políticos”, concluiu o texto.

Mesmo assim, na época, o autor Lauro César Muniz disse que estava satisfeito com os resultados. “Se o índice de audiência reflete a aceitação do público em relação a determinada novela, posso, então, concluir que O Salvador da Pátria foi o melhor trabalho que já fiz”, avaliou à revista Amiga de 21 de agosto daquele ano.

Anos mais tarde, a Folha de S.Paulo de 17 de maio de 2002 informou que, em um evento da Escola de Comunicações e Artes da USP, o mesmo Muniz disse que teve que mudar a história da novela porque “houve uma interferência direta de Brasília na cúpula da Globo”.

“Em 1989, já não havia mais a censura formal, mas houve uma interferência direta de Brasília na cúpula da Globo. Era o primeiro ano de eleições diretas, Lula contra Collor, e acharam que o Sassá Mutema fazia apologia à esquerda. Assim, acabou vindo uma pressão na emissora para que a trama fosse mudada. Cheguei a ouvir, nos bastidores, “o autor desse novela vai eleger o presidente do Brasil”. Tive de abandonar o aspecto político da história e focalizar apenas o policial”, declarou o dramaturgo.

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