Consagrado pelo simplório Zé do Burro, Leonardo Villar ficou marcado pelos personagens ranzinzas da TV

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Perdemos mais um grande das artes desse país: Leonardo Villar, famoso pelo papel de Zé do Burro em O Pagador de Promessas (peça e filme) e tantos outros tipos marcantes, inclusive na televisão, de onde se tornou conhecido até pelas gerações mais novas. Quem não lembra do pai de Giovanna Antonelli em Laços de Família, ou do pai de Claudia Abreu em Barriga de Aluguel! De acordo com o noticiado pelo G1, o ator sofreu uma parada cardíaca nessa sexta-feira (03/07). Tinha 96 anos de idade.


Com Giovanna Antonelli em Laços de Família (Acervo/TV Globo)

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Leonildo Motta – seu nome de batismo -, nasceu em Piracicaba, em 25 de julho de 1923. Aluno da EAD (Escola de Arte Dramática da USP), começou no teatro no finalzinho da década de 1940. Depois de mais de dez anos atuando nos palcos – no TBC, ou com Bibi Ferreira, Sérgio Cardoso e outros -, passou a fazer cinema e a trabalhar na televisão.

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A Wikipedia cataloga pelo menos 43 peças de teatro, muitas clássicas, como A Dama das Camélias (1951), Seis Personagens à Procura de um Autor (1952), Antígone (1952), A Falecida (1953), A Raposa e as Uvas (1953), Maria Stuart (1955), Santa Marta Fabril S.A. (1955), Volpone (1955), Eurydice (1956), Gata em Teto de Zinco Quente (1956), Panorama Visto da Ponte (1958, 1960 e 1972), Pedreira das Almas (1958), O Pagador de Promessas (1960) – depois levada ao cinema -, A Morte do Caixeiro Viajante (1962), Senhorita Júlia (1971), Motel Paradiso (1982), e A Moratória (2001).


Com Glória Menezes em O Pagador de Promessas

O filme O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, ficou conhecido internacionalmente. Leonardo já havia interpretado Zé do Burro no teatro. O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e é única produção brasileira a receber a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O ator participou ainda de outras 15 produções cinematográficas, entre elas, Lampião, o Rei do Cangaço (1964), A Hora e Vez de Augusto Matraga (1965), A Madona de Cedro (1968), Ação Entre Amigos (1998), Brava Gente Brasileira (2000) e Chega de Saudade (2008).

Na televisão foram 31 participações, entre novelas, séries, minisséries e casos especiais. Em 1965, protagonizou, com Yolanda Braga, a novela A Cor da Sua Pele, a primeira da história da TV a apresentar um romance inter-racial como trama principal. A estreia na Globo foi em 1972, substituindo o amigo Sérgio Cardoso na novela O Primeiro Amor. Sérgio acabara de falecer e Leonardo entrou para viver o personagem dele – o Professor Luciano – no desfecho da história. Ganhou papeis de destaque nas quatro novelas seguintes, Uma Rosa com Amor, Os Ossos do Barão, Escalada e O Grito. Em 1976, fez sucesso como par de Maria Della Costa na novela Estúpido Cupido: o casal maduro Guima e Olga.


Com Maria Della Costa em Estúpido Cupido (foto: Revista Sétimo Céu)

Nos anos 80, Leonardo esteve em produções das TVs Globo, Cultura e Manchete. Em 1990, outro de seus papeis inesquecíveis: o fanático religioso Ezequiel, de Barriga de Aluguel, pai da protagonista vivida por Claudia Abreu. Em 2000, foi Seu Pascoal, pai de Capitu (Giovanna Antonelli) em Laços de Família, outro sucesso. Em 2010, seu último trabalho: Antero Gouveia na novela Passione, dividindo cenas divertidas com os já saudosos Cleyde Yáconis e Elias Gleizer. Ano passado, gravei um depoimento sobre Leonardo Villar para o programa Persona em Foco, da TV Cultura. Espero que seja logo apresentado.

Conhecido no meio artístico por ser uma pessoa reservada, fica na lembrança o porte sempre altivo, o semblante firme, a voz e o sotaque que marcaram seus personagens na televisão, muito distantes do olhar simplório e singelo do Zé do Burro, personagem que o ator emprestou o corpo e que o consagrou.

SOBRE O AUTOR
Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira.

SOBRE A COLUNA
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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