Quem assistiu à primeira versão de Renascer, em 1993, deve se lembrar que os personagens Kika (vivida por Claudia Lira no passado) e Eriberto (na época, chamado Egberto e interpretado por José de Abreu) não vão até o final da história. Ao assumirem um relacionamento, eles deixam a trama em definitivo.

José Bento (Marcello Melo Jr.) e Kika (Juliane Araújo) em Renascer
José Bento (Marcello Melo Jr.) e Kika (Juliane Araújo) em Renascer

Isso também era esperado no remake. Kika (Juliane Araújo) e Eriberto (Pedro Neschling) já se aproximaram, o que seria a deixa para o final feliz antecipado dos pombinhos. Porém, até aqui, eles seguem na trama, mesmo sem nada pra fazer no enredo.

Nos mais recentes capítulos de Renascer, Kika só aparece quando alguém precisa de um advogado. Já o caso de Eriberto é ainda mais bizarro: ele só aparece como garoto-propaganda de um carro.

Personagens sem função

Em 1993, Kika e Egberto perderam função na trama de Renascer quando o núcleo urbano foi eliminado de vez da história de Benedito Ruy Barbosa. Com a volta dos filhos de José Inocêncio (Antonio Fagundes) para a Bahia, a cidade grande saía de cena.

Na época, a atriz Claudia Lira explicou ao jornal O Globo, de 30 de junho de 1993, o motivo do desfecho antecipado de Kika.

“O rumo do personagem foi alterado e acabou se perdendo na trama. Antes ela não se separava de Zé Bento (Tarcísio Filho). Eu tinha uma grande expectativa, mas sentia que a Kika era sempre tirada de mim, sendo minada”, analisou a atriz.

Hora extra

Pedro Neschling em Renascer
Pedro Neschling em Renascer

No remake, isso também já aconteceu. Com a morte de José Venâncio (Rodrigo Simas) e a ida de José Bento (Marcello Melo Jr), Buba (Gabriela Medeiros), Teca (Livia Silva) e Eliana (Sophie Charlotte) para a Bahia, o núcleo do Rio de Janeiro praticamente deixa de existir.

Tanto que o autor Bruno Luperi já tratou de construir o desfecho antecipado de Kika e Eriberto. Os pombinhos decidiram morar juntos, mas sem grande compromisso, o que colocaria um ponto final na história deles.

Mas, estranhamente, eles seguem aparecendo na história e fazendo hora extra. Kika, por exemplo, é acionada sempre que alguém na novela precisa de um advogado. Tanto que ela está cuidando do processo de José Augusto (Renan Monteiro) e deve ser a responsável por fazê-lo recuperar seu registro médico.

Enquanto isso, Eriberto segue aparecendo em cenas aleatórias, quase sempre dentro do seu carro. Isso porque o personagem, que é o dono de uma agência de publicidade na trama, se tornou o principal garoto-propaganda de uma marca de carro elétrico. Assim, ele precisa aparecer para a Globo faturar.

O que vai acontecer com Kika e Eriberto em Renascer?

Em 1993, Kika e Egberto se despediram da novela no capítulo 93. Porém, o remake já ultrapassou a marca do centésimo capítulo e, até aqui, não há qualquer sinal da despedida definitiva dos personagens.

Ao que tudo indica, Luperi deve manter os personagens na história enquanto precisar dos serviços da advogada e das propagandas do publicitário. Aliás, o fato de Eriberto estar amarrado a um importante merchandising pode até garantir a sobrevida do personagem. Até porque a Globo não vai abrir mão de um anúncio deste porte, né?

Como Luperi tem feito modificações nos rumos de vários personagens, pode até ser que o autor tire uma nova trama da cartola para o casal e os mantenha no ar. Mas que eles tenham uma história de verdade, já que mantê-los na trama só pra cumprir acordo publicitário chega a ser um desperdício.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor